ATA DA TRIGÉSIMA QUINTA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA
SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 17.09.1998.
Aos dezessete dias do mês de setembro do ano de mil
novecentos e noventa e oito reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio
Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezenove horas e trinta e cinco
minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou
abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a homenagear a Semana
Farroupilha, nos termos do Requerimento nº 190/98 (Processo nº 2635/98), de
autoria da Mesa Diretora; à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto
Alegre ao Senhor Vilmar Ribeiro Romera, nos termos do Projeto de Lei do
Legislativo nº 62/98 (Processo nº 1432/98), de autoria do Vereador Gilberto
Batista; à entrega do Prêmio Tradicionalista Glaucus Saraiva ao Senhor Luiz
Carlos Barbosa Lessa, nos termos do Projeto de Resolução nº 04/98 (Processo nº
509/98), de autoria do Vereador Reginaldo
Pujol; e à entrega do Prêmio Lupicínio Rodrigues ao Instrumentista Renato
Borghetti, nos termos do Projeto de Resolução nº 05/98 (Processo nº 511/98), de
autoria do Vereador Reginaldo Pujol. Compuseram a MESA: os Vereadores Luiz Braz
e Reginaldo Pujol, respectivamente, Presidente e 3º Secretário da Câmara
Municipal de Porto Alegre; o Senhor Olinto Chagas, Assessor-Cultural da
Prefeitura, representando o Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Senhor
Altamir Francisco Arroque, Promotor de Justiça, representando o
Procurador-Geral de Justiça do Estado; o Senhor Dirceu Brizola,
Presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho; o Coronel Irani Siqueira,
representante do Comando Militar do Sul; o Senhor Luiz Valdemar Dexheimer,
representante do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore - IGTF; os Senhores
Vilmar Ribeiro Romera, Luiz Carlos Barbosa Lessa e Renato Borghetti,
Homenageados; o Vereador Lauro Hagemann, Secretário "ad hoc". Também,
foram registradas as presenças do Senhor Lupicínio Rodrigues Filho, do Artista
Gaúcho da Fronteira, do Senhor Francisco
Carlos Ferreira Mena, Patrão do CTG Maurício Sirotski Sobrinho, e de familiares
e amigos dos Homenageados. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem à execução do Hino
Nacional. Após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa.
O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Mesa Diretora e das Bancadas do PFL,
PTB, PDT, PMDB e PSB, analisando o significado da participação deste
Legislativo nas comemorações relativas à Semana Farroupilha, discorreu acerca das
características que identificam o ato de “ser gaúcho”. Também, ressaltou os
motivos que o levaram a propor as homenagens hoje prestadas aos Senhores Luiz
Carlos Barbosa Lessa e Renato Borghetti. O Vereador Gilberto Batista,
declarando que as comemorações da Semana Farroupilha permitem “reafirmar, com o
maior amor possível, as nossas tradições, a nossa cultura e os nossos
costumes”, destacou seu orgulho por
integrar a comunidade gaúcha, parabenizando os Homenageados e
historiando acerca da história pessoal e profissional do Senhor Vilmar Ribeiro
Romera, que hoje recebe o Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre. O
Vereador João Carlos Nedel, em nome da Bancada do PPB, disse que “o Estado de
melhor qualidade de vida é também o Estado de história mais dignificante do
Brasil”, relembrando fatos marcantes da história do Rio Grande do Sul e
discorrendo acerca da importância dos cidadãos hoje homenageados, como
representantes da cultura gaúcha. Ainda, declamou o poema “Feitiço Índio”, de
autoria do Senhor Luiz Carlos Barbosa Lessa. O Vereador José Valdir, em nome da
Bancada do PT, teceu considerações acerca do significado dos Senhores Vilmar
Ribeiro Romera, Luiz Carlos Barbosa Lessa e Renato Borghetti para a cultura
gaúcha, respectivamente, nas áreas de comunicação, de literatura e de música,
destacando a necessidade de valorização da herança cultural e da pluralidade
que essa herança possui no Rio Grande do Sul. Finalizando, declamou o poema
“Querência”, de sua autoria. O Vereador Lauro Hagemann, em nome da Bancada do
PPS, relembrando a forma como Porto Alegre insere-se historicamente nos
acontecimentos relativos à Revolução Farroupilha, saudou os Homenageados,
comentando a atuação dos mesmos como divulgadores e incentivadores da cultura
do Rio Grande do Sul, não apenas no Estado, mas nacional e internacionalmente.
A seguir, o Senhor Presidente convidou o Vereador Gilberto Batista e o Senhor
Olinto Chagas a procederem à entrega do Diploma e da Medalha referentes ao
Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Vilmar Ribeiro Romera;
convidou os pais do Músico Renato Borghetti e o Senhor Lupicínio Rodrigues
Filho a procederem à entrega do Prêmio Artístico Lupicínio Rodrigues ao Músico
Renato Borghetti; e convidou o Senhor Dirceu Brizola a proceder à entrega do
Prêmio Tradicionalista Glaucus Saraiva ao Senhor Luiz Carlos Barbosa Lessa.
Também, o Senhor Presidente convidou o Senhor Alencar Feijó a integrar a Mesa
dos trabalhos. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos
Senhores Renato Borghetti, Luiz Carlos Barbosa Lessa e Vilmar Ribeiro Romera,
que agradeceram a homenagem prestada pela Casa. Após, o Senhor Presidente
convidou os presentes para, em pé, ouvirem à execução do Hino Rio-Grandense,
agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou
encerrados os trabalhos às vinte e uma horas e quarenta e quatro minutos,
convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora
regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Luiz Braz e
Reginaldo Pujol e secretariados pelos Vereadores Reginaldo Pujol e Lauro
Hagemann, este como Secretário “ad hoc”. Do que eu, Reginaldo Pujol, 3º
Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em
avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Luiz Braz): Estão abertos
os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a homenagear a Semana
Farroupilha e, também, a entregar o Título Honorífico de Cidadão de Porto
Alegre ao Sr. Vilmar Ribeiro Romera, entregar o Prêmio Tradicionalista Glaucus
Saraiva ao Sr. Luiz Carlos Barbosa Lessa e entregar o Prêmio Lupicínio
Rodrigues ao instrumentista gaúcho Renato Borghetti.
Convidamos
para compor a Mesa o representante do Prefeito Municipal de Porto Alegre, Sr.
Olinto Chagas, Assessor Cultural da Prefeitura; o Sr. Vilmar Ribeiro Romera,
homenageado; o Sr. Luiz Carlos Barbosa Lessa, homenageado; o Sr. Renato
Borghetti, homenageado; o representante do Procurador-Geral de Justiça, Sr.
Altamir Francisco Arroque, Promotor de Justiça; o representante do Comando
Militar do Sul, Cel. Irani Siqueira; o representante do Instituto Gaúcho de
Tradição e Folclore - IGTF -, Sr. Luiz Dexheimer; o Presidente do Movimento
Tradicionalista Gaúcho, Sr. Dirceu Brizola.
Convidamos
todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.
(Executa-se
o Hino Nacional.)
Ouviremos,
em primeiro lugar, o pronunciamento de um componente da nossa Mesa Diretora da
Câmara Municipal. O Ver. Reginaldo Pujol, escolhido para falar em nome da Mesa
nesta homenagem à Semana Farroupilha, também é responsável por boa parte do
brilho que temos hoje, nesta noite, com a presença de tantas personalidades
ligadas ao tradicionalismo, ao nativismo. Ele propôs duas das homenagens que
faremos no reconhecimento de toda a sociedade por tudo aquilo que os nossos
homenageados representam para Porto Alegre e para todo o Rio Grande do Sul.
O
Ver. Reginaldo Pujol falará em nome das Bancadas do PFL, PTB, PDT, PMDB, PSB e
pela Mesa Diretora da Câmara Municipal.
O SR. REGINALDO PUJOL: Sr.
Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.)
Permito-me saudar, numa homenagem, os integrantes do Legislativo Municipal, o
seu corpo de funcionários, numa demonstração clara de que também os servidores
desta Casa estão plenamente integrados no culto às tradições do Rio Grande.
Quero saudar todos os servidores do Legislativo Municipal na figura do Chico, o
Francisco Menna, Patrão do CTG Maurício Sirotsky Sobrinho, da Câmara Municipal
de Porto Alegre.
Companheiros,
vivemos nesta Semana Farroupilha de 1998, quase na virada do século, no limiar
do novo milênio, uma circunstância toda especial. Em verdade, o dia de hoje
reitera outros tantos em que o Legislativo da Cidade se incorpora ao sentimento
dos gaúchos e de forma coesa se integra por inteiro às homenagens que em todo o
Rio Grande do Sul, da mais pequena cidade até a sua Capital, se realizam com o
propósito de assinalar o feito de 35. Oficializada a Semana Farroupilha por lei
municipal que tivemos o alto privilégio de subscrever em 25 de setembro de
1996, nela se inseriu, entre os eventos que necessária e obrigatoriamente
teriam de ser efetivados nesta ocasião, disposição segundo a qual entre os
eventos cívicos da Semana Farroupilha incluir-se-ia, obrigatoriamente, uma
Sessão Solene da Câmara Municipal, efetivada em data próxima ao 20 de setembro.
É o que hoje ocorre.
Em
verdade, o Legislativo de Porto Alegre, quando se soma à cultura rio-grandense,
à cultura gaúcha, nada mais faz do que proclamar de forma altaneira que não é a
circunstância de nós morarmos numa cidade industrializada que nos desvincula
das nossas raízes. Eu discutia há alguns dias com o Ver. Lauro Hagemann, que é
uma das nossas forças vivas do nosso Legislativo, até mesmo pela circunstância
de ser ele um dos mais antigos e diligentes integrantes desta Casa, nós
discutíamos com ele há poucos dias a circunstância de que, nesse Legislativo, o
que mais dificilmente se encontra é alguém que tenha nascido na Cidade de Porto
Alegre. A grande maioria de seus integrantes nasceu, como ele, em Santa Cruz do
Sul, como eu, na minha Quaraí - enfim, em pontos diferentes do Estado. E todos
nós, indistintamente, mesmo os que nascemos em Porto Alegre, guardamos no
recôndito da nossa alma aquela forma diferenciada que nós, gaúchos, temos de
ser brasileiros, que, longe de diminuir a brasilidade, a afirma. Porque o
gaúcho - já foi dito pelo Watt - é brasileiro por consciência, por opção
histórica e nunca por uma posição geográfica. Por sinal, todos sabemos que, se
fossem acomodados os nossos antepassados, não haveríamos de ser brasileiros,
porque geograficamente nos determinavam outra nacionalidade que não aquela por
que conscientemente optamos e que tão bravamente defendemos. Pois são esses
gaúchos, que são brasileiros por decisão própria, por opção histórica, que em
1835 entenderam de levantar armas para buscar afirmação de outros princípios,
onde, longe de querermos a divisão da Pátria Brasileira, muito antes pelo
contrário, queremos a afirmação da Pátria Nacional em cima de valores muito bem
expressos no lema do movimento de 35, que pugnava por liberdade, igualdade e,
sobretudo, junto delas, pela humanidade.
Esse
humanismo libertário de 35 precisa mais do que nunca ser acentuado para que
claro fique a todos os brasileiros que aqui, no Rio Grande, quando os gaúchos
colocam o lenço branco ou o lenço vermelho e saem em suas tropeiradas a andar
pelas ruas, tremulando a bandeira farroupilha, esse gesto é a reafirmação dos
nossos princípios e que, nesta reafirmação, está ínsito, claro, este nosso
compromisso com o destino da história da Pátria. Nós, os gaúchos, que hoje nos
ufanamos de gozar da melhor qualidade de vida deste País, queremos que este
País tenha a nossa qualidade de vida. E mais do que isso: que tenha o nosso
estilo de ser, o nosso estilo de ser brasileiros, homens e mulheres
compromissados com a sociedade, onde esses ideais sejam permanentemente
cultivados como um compromisso indissociado da nossa própria natureza.
É
por isso que nós buscamos, em 1995, estabelecer algumas referências que, de
forma clara, enaltecessem os vultos históricos, não só aqueles que fizeram o
35, mas também aqueles que resgataram o 35 na memória brasileira e, sobretudo,
que reafirmaram esses valores com a atuação corajosa, positiva e, sobretudo,
engajada nesse processo que é o culto à tradição do Rio Grande. A instituição
por esta Casa do Prêmio Tradicionalista Glaucus Saraiva, que este ano é
outorgado a Luiz Carlos Barbosa Lessa, é, de forma concreta, a demonstração
dessa disposição, a disposição de acentuar, de forma forte, que nós, gaúchos,
somos reconhecidos àqueles que, resgatando a nossa memória, começaram esse
movimento que afirma, reafirma e consolida essa nossa maneira diferente de ser
brasileiro, que se diferencia especialmente pelo amor que temos a este País e
pela responsabilidade social que assumimos na condição de habitante do extremo
meridional da Pátria, onde com muito zelo cuidamos da tradição.
Eu
vejo hoje aqui inúmeras pessoas que têm parcela significativa de importância na
afirmação desses princípios, mas eu tenho por Luiz Carlos Barbosa Lessa uma
admiração muito especial. Eu sei que a cultura do Rio Grande se mede de todas
as formas. Há alguns que teimam em dizer que para ser gaúcho tem-se que tomar
chimarrão, andar de bota, lenço no pescoço, montar a cavalo, comer churrasco,
fazer fandango e que o demais não releva e não importa. Nós, que temos a
consciência da responsabilidade e que percebemos a extensão do que é este
movimento tradicionalista que mantém vivas essas chamas culturais, nós, que
temos essa consciência, sabemos que ser gaúcho é muito mais. Ser gaúcho é ter
um compromisso com a história desta Pátria; ser gaúcho é lutar, e lutar sempre,
para que este País se consolide, respeitando as diversidades regionais e se
afirmando, como era desejo dos nossos antepassados, de forma democrática, de
forma republicana e de forma federativa.
Por
isso, eu me sinto extremamente feliz, Vilmar Romera, quando a pena jovem do
Gilberto Batista subscreveu, pela primeira vez, o Projeto de Lei que te
outorgava a cidadania de Porto Alegre. Ele tinha o condão de preparar este
grande acontecimento, porque a cultura do Rio Grande se mede na prosa fácil, na
prosa inteligente, na escrita sábia deste grande tradicionalista Luiz Carlos
Barbosa Lessa, mas se ouve na música, na sanfona do Borghettinho, e vai pelos
ares brasileiros na voz dos nossos comunicadores e nesta simbiose que as
circunstâncias hoje nos permitem, do jovem gaúcho, altaneiro, que leva este
símbolo da música gaúcha para todos os quadrantes do mundo, este grande
Borghettinho, este jovem talentoso, que faz do instrumento tradicional da nossa
música uma própria peça de erudição da música do Rio Grande, que ele domina com
tamanha perfeição. Estas circunstâncias, essa simbiose coloca aqui esse homem a
quem o Rio Grande tanto deve por esclarecer esses equívocos históricos de
interpretação do nosso passado glorioso e de nossa vocação brasileira, esse
homem que já foi Secretário de Cultura do Estado e a quem o tradicionalismo
permanentemente tem que reverenciar, eis que tem talento, brilho, sabedoria e
paixão pelo Rio Grande. Pois bem: nesta reunião, irmão Romera, temos que
estender aquele abraço, do tamanho do Rio Grande, temos que chamar todos para o
nosso aconchego, e eu peço permissão a todos para concluir dizendo quatro
palavras em alto e bom tom: Bah! Eu sou gaúcho!
(Não revisto
pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Registro as
presenças do Dr. Lupicínio Rodrigues
Filho, familiares, amigos, companheiros e demais convidados dos
homenageados.
Meu
amigo, Ver. Pujol, V. Exa. falou em nome da Mesa, e, muito embora não sendo
nascido aqui no Rio Grande do Sul - todos sabem que venho do interior de São
Paulo -, já estou aqui nesta terra há vinte e três anos e amo demais o Rio Grande
do Sul. Hoje, só saí de casa porque tinha assumido este compromisso. Estou com
um problema de saúde e não vou poder continuar a presidir esta Sessão, mas
tenho a honra de tê-la iniciado. Vou passar a presidência dos trabalhos a V.
Exa., Ver. Pujol, e tenho certeza de que a Sessão vai ficar muito melhor agora
sob a sua batuta, já que V. Exa. é o grande articulador desta noite, recebendo
tanta gente importante aqui no Palácio Aloísio Filho, vivenciando tantas
glórias e podendo, até, ter a satisfação de rever o meu irmão Gaúcho da
Fronteira, que traz boas recordações de um passado, lá no início, quando estava
começando no rádio aqui, no Rio Grande do Sul. Peço aplausos ao Gaúcho da
Fronteira, que é uma figura que sempre me traz boas recordações. (Palmas.)
Solicito
ao Ver. Reginaldo Pujol que assuma a presidência dos trabalhos. Peço perdão a
todos os presentes, mas estou com problemas sérios de saúde para continuar
presidindo a Sessão nesta noite. Passo a presidência a alguém que honra todas
as tradições gaúchas, que vai continuar presidindo esta Sessão com o mesmo amor
que tenho no coração por toda essa gente do Rio Grande do Sul, que me acolheu
tão bem. Muito obrigado.
(O
Ver. Reginaldo Pujol assume a presidência dos trabalhos.)
O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Pujol): Com muito
orgulho assumo a presidência desta Sessão Solene e não posso me furtar de
assinalar o nosso reconhecimento público ao Presidente da Casa, Ver. Braz, que
febril, impedido, inclusive, por aconselhamento médico, de estar presente no
dia de hoje, aqui, no Legislativo, fez questão de estar aqui para abrir os
trabalhos desta Sessão. Aliás, permito-me dizer que isso demonstra mais a nossa
qualidade de gaúcho. Somos sobreviventes do Brasil, porque sobrevivemos a esse
clima tão inconstante que nos assola.
O
Ver. Gilberto Batista falará como proponente do Título Honorífico de Cidadão de
Porto Alegre ao Sr. Vilmar Ribeiro
Romera, em seu nome e em nome da Bancada do PSDB, nesta Sessão, sobre a Semana
Farroupilha.
O SR. GILBERTO BATISTA: Sr. Presidente,
Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Hoje
estamos comemorando, nesta data importante, a Semana Farroupilha, porque o
nosso Estado sempre foi marcado pela tradição de um povo guerreiro, bravo e
independente. A prova mais recente disso é que há alguns dias a ONU divulgou e
colocou o Estado do Rio Grande do Sul em primeiro lugar em qualidade de vida
neste País. Mas isso só foi possível, só foi conquistado com muita determinação
e arrojo, que são características desse povo gaúcho. Este Estado, senhores, é
maravilhoso, justamente pelos seus contrastes e suas divisões. Ou somos
colorados, ou somos gremistas; ou somos chimangos ou maragatos. Agora, uma
coisa nós sabemos: todos nós, todos nós somos gaúchos.
Essas
comemorações da Semana Farroupilha nos possibilitam reafirmar, com o maior amor
possível, as nossas tradições, a nossa cultura, os nossos costumes, Vilmar,
através da música, aqui representada por várias pessoas que são ligadas à nossa
música gaúcha, através de nosso futebol, desse sotaque que é reconhecido em
todo o Brasil. Por último, marcante é a nossa atuação no campo político
nacional. Por isso, como o Ver. Pujol falou, eu também tenho muito orgulho de
ser gaúcho.
Melhor
data do que esta não existiria para, conjuntamente com essas comemorações da
Semana Farroupilha, homenagear três pessoas que são a cara deste Rio Grande
vencedor.
Quero
parabenizar pela brilhante carreira esse jovem talentoso que encanta e embala
não só o Rio Grande, mas todo o Brasil com a sua música. Recebe, Borghetti -
não é nenhum favor -, recebe, justamente, este Prêmio Lupicínio Rodrigues.
Quero
parabenizar também, por receber hoje, com muita justiça, o Prêmio Glaucus
Saraiva, o Sr. Luiz Carlos Barbosa Lessa. Todos aqui, melhor do que eu, sabem
que ele simplesmente foi o fundador do CTG-35, esse CTG que foi um dos
pioneiros da nossa Capital.
É
o primeiro projeto deste jovem Vereador aprovado nesta Casa. Tenho muito
orgulho de tê-lo dedicado ao Vilmar. À relação da honrosa galeria de Cidadãos
de Porto Alegre, eu, com simplicidade, quis agregar aos vários nomes
competentes que temos lá um nome que, no meu íntimo, no meu ser, pudesse
contemplar a garra, a vontade, a determinação, o amor à sua vida profissional,
o amor ao nosso Rio Grande e, principalmente, o amor ao trabalho que tu
fizeste, fazes e farás por Porto Alegre.
Foi
difícil, no momento, eu encontrar esse nome com essas qualidades todas, mas
encontrei. E faço hoje essa simples homenagem, muito singela, mas podes ter
certeza, Romera, de que é com muito amor. O destino nos fez nos conhecermos de
uma maneira impressionante. Conheci o Romera quando ele era candidato a
Deputado Federal, numa época de sua vida. Eu era jovem, de origem pobre,
precisando trabalhar. Ganhei uma oportunidade para entregar santinhos nas casas
de Porto Alegre para o candidato a Deputado Vilmar Romera. Deus, hoje, me
coloca nesta tribuna para homenagear aquele para quem, há alguns anos, eu pedia
votos para que se elegesse Deputado Federal.
O
destino é bonito e, quando penso nisso, me orgulho e me emociono, Vilmar, por
estar neste momento, aqui nesta tribuna, fazendo o reconhecimento a uma das
pessoas que, se Deus quiser, sempre lembrarei: a primeira a me dar emprego na
minha vida pública, de entregar aqueles santinhos. Obrigado, Vilmar.
Além
de tudo isso, Sr. Presidente, Vilmar Romera também é meu conterrâneo. Ele
nasceu em São Jerônimo, como eu.
Vilmar,
por todas as qualidades aqui mencionadas, quem tem somente a ganhar com essas
minhas palavras é a Cidade de Porto Alegre. É esta Cidade que está de parabéns.
Vilmar
é casado com a Sra. Maria de Lurdes e preza a instituição família. Sua vida
profissional é exemplar. Querem espelhar-se?
Eu quero.
Vilmar Romera começou e terminou a sua carreira no
BANRISUL. Vejam: lá ele começou a sua carreira e lá a terminou. E na lida
cultural, índio velho, encontrei a tua dedicação total. Tu, que já foste patrão
do CTG-35, tu, que já foste produtor e organizador de vários programas nas
nossas tevês locais, como “Caminhos do Pampa”, na TV Pampa; “Fogo de Chão”, na
TV Bandeirantes, que até hoje vai ao ar aos domingos pela manhã, que já passou
por várias rádios, como Rádio Eldorado, Rádio Princesa, Rádio Tramandaí, foste
Secretário de Turismo de Cidreira. Sei que fizeste um excelente trabalho, porque
tudo o que fazes na tua vida queres fazer bem feito, e assim o faz. Participou
de diversas cavalgadas, como a Cavalgada Internacional da Paz, que percorreu
mais de seis países. Idealizou a Cavalgada Tropeiros do Brasil e coordenou a
melhor cavalgada, que é a Cavaleiros do Mar. Só tu para idealizar uma coisa
dessas!
Eu acho que a natureza, junto com a tua paixão pela
tradição do Rio Grande, uniu o útil ao agradável. Por tudo isso, índio velho,
usa sempre esse teu lenço vermelho no pescoço – tu, que és colorado assim como
eu, que simboliza e vai simbolizar esse amor pelo Rio Grande. Que Deus sempre
te ilumine nas tuas campeiradas. Olha, meu amigo, um abraço do tamanho do Rio
Grande. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto
pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: O Ver. João
Carlos Nedel está com a palavra pelo PPB.
O SR. JOÃO CARLOS NEDEL: (Saúda os
componentes da Mesa e demais presentes.) “O Estado de melhor qualidade de vida
é também o Estado de história mais dignificante do Brasil.”
O
Estado mais progressista, a ponto de ter cinco de seus Municípios entre as dez
primeiras posições do Brasil, é também o Estado que ocupou o Brasil com seus
usos e costumes e seu culto à tradição, ostentando, sobranceiro, a condição de
Estado em que mais desenvolveram o folclore, a tradição e a cultura regionais.
O Estado que mais freqüentemente se coloca na liderança do pensamento e da ação
política do Brasil é também o Estado que muito se orgulha de sua participação
nos grandes momentos da vida e da cultura nacionais, sejam eles cruentos e
heróicos, como a Revolução Farroupilha, sejam eles de demonstração do alto
nível cívico e político de nosso povo, como é o caso da presente campanha
eleitoral.
Comemorar
a Semana Farroupilha, portanto, mais do que cumprir um ritual de exaltação ao
passado, mais do que rememorar e louvar os feitos de nossos heróis, mais do que
renovar a identificação com os ideais que deram têmpera ao caráter do povo
gaúcho, é renovar o compromisso com o futuro, de que o presente é molde, êmulo
e forja, alicerçado no patrimônio histórico, cultural e político-administrativo
recebido de nossos antecessores.
É
com base nessa convicção que a Bancada do Partido Progressista Brasileiro, que
tenho a honra de compor juntamente com os Vereadores João Dib, Pedro Américo
Leal, presentemente substituído pelo meu amigo e companheiro Beto Moesch,
incorpora-se à homenagem que a Câmara Municipal de Porto Alegre presta à Semana
Farroupilha e, ao fazê-lo, ressalto como uma grande oportunidade de solidificar
o ideal rio-grandense e de reafirmar a perene integração do Rio Grande à
República Federativa do Brasil e a busca incessante da realização do bem-comum
entre seu povo. É de tal porte a magnitude deste momento, que engloba, numa
feliz comunhão de objetivos afins, a homenagem que a comunidade porto-alegrense
presta a três nomes de relevo que, ao receberem os galardões que hoje esta Casa
lhes confere, tornam definitiva sua presença no cenário histórico-cultural de
nossa época e que há de ser lembrado pelos pósteros como um dos mais relevantes
de todos os tempos.
Assim,
a Bancada do Partido Progressista Brasileiro presta sua homenagem com igual
orgulho e alegria também ao ilustre Sr. Vilmar Ribeiro Romera, emérito
tradicionalista e apresentador de rádio e televisão, que recebe o título honorífico
de Cidadão de Porto Alegre; ao consagrado músico e compositor Renato Borghetti,
cujo renome se expandiu em nível nacional a tal ponto que nenhum outro
instrumentalista da música rio-grandense jamais chegou e que recebe o Prêmio
Artístico Lupicínio Rodrigues; também ao incomparável homem de muitas
habilidades - jornalista, publicitário, tradicionalista, pesquisador e
co-fundador do pioneiro 35, Centro de Tradições Gaúchas, casado com a
são-luizense honorária Nilza Lessa -, que recebe o Prêmio Tradicionalista
Glaucus Saraiva. Todo o tempo de que eu hoje pudesse dispor, por maior que
fosse, seria insuficiente para elencar as razões pelas quais esta Casa, em nome
do povo de Porto Alegre, concede-lhes tais distinções. E todos os adjetivos de
que pudesse fazer uso, buscando os melhores recursos do vernáculo, para
enaltecer-lhes as qualidades, só fariam sentido se aplicados em superlativo.
Por
isso, Sr. Presidente, Reginaldo Pujol, Srs. Vereadores, peço licença para
culminar a homenagem do Partido Progressista relembrando o poema “Feitiço
Índio”, de Barbosa Lessa, que se constitui em um dos mais lindos preitos à
ancestralidade guarani e que diz:
“Vou
chamar Tupã/para ouvir minha voz guarani/Tupã, deus das Campinas/rei da tribo
onde nasci/Tupã, vem me ouvir!”
O entusiasmo, Sr. Presidente, e a paixão pela
beleza e o encanto da obra de Barbosa Lessa me levam a relembrar, também, o
antológico poema e a melodia inesquecível de sua lavra, que resgatam a Lenda do
Negrinho do Pastoreio:
“Negrinho do pastoreio/acendo esta vela pra ti/te
peço que me devolvas/a querência que perdi...”
E que Nossa Senhora do Chimarrão nos abençoe. Muito
obrigado. (Palmas.)
(Não revisto
pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: O Ver. José
Valdir está com a palavra pela Bancada do Partido dos Trabalhadores.
O SR. JOSÉ VALDIR: Sr.
Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.)
A Câmara Municipal de Porto Alegre, a cidade de maior qualidade de vida, hoje
homenageia três inquestionáveis expoentes da nossa cultura regional: Vilmar
Romera, da comunicação; Barbosa Lessa, literatura, pesquisa e o resgate da
nossa história; Renato Borghetti, do qual eu sou um dos admiradores, um
autêntico virtuose num dos instrumentos mais típico do nosso folclore, que é a
gaita-ponto.
Esta
homenagem se dá em uma data muito apropriada, quando comemoramos a Semana
Farroupilha. Precisamos fazer uma reflexão sobre a Semana Farroupilha para além
do fato histórico gerador, que é a Revolução Farroupilha, e para além da
alegria e dos festejos. Temos que fazer uma reflexão muito profunda sobre o
significado do nosso legado cultural. A Semana Farroupilha evoca essa reflexão.
Falo
em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores, que hoje está perfeitamente
integrada nesta discussão, tanto que criou um núcleo de nativistas e
tradicionalistas do qual tenho a honra de ser um dos fundadores e que agora
está sendo representado no nosso acampamento no Parque da Harmonia.
Acredito
que a força desta nossa herança cultural é muito mais forte do que muitas vezes
percebemos, e nos damos conta da força telúrica que tem a nossa tradição
cultural quando estamos fora do Rio Grande do Sul e ouvimos algum termo
gaudério, uma música gaúcha, o “Canto Alegretense” ou os solos do Borghettinho.
E quando atravessamos o Mampituba, após alguns meses fora do Estado, sentimos
aquele arrepio nas veias, como se a gente tivesse o sangue e a alma encharcados
de pago. Aí, começamos a dar valor para esta força inegável que tem a nossa
tradição cultural. A nossa cultura, como toda e qualquer cultura, é
contraditória. Temos valores que são questionáveis e que temos que trabalhar.
Temos valores, como o valor do machismo, como o valor da subalternidade, que,
como em toda e qualquer cultura, correspondem a determinada formação histórica,
a determinada situação histórica que gerou esse tipo de valor. Mas,
inegavelmente, a nossa cultura tem dois aspectos muito importantes, e penso que
todos aqueles que como eu, ou todos que querem e lutam por uma sociedade mais
fraterna... Esses aspectos têm tudo a ver com a nossa cultura, com a nossa
história cultural: um é a pluralidade e o outro são os valores éticos
universais importantíssimos. A nossa cultura é extremamente plural. Há desde a
cultura “gaúcha”, do homem do pampa, à cultura da imigração italiana, alemã, à
cultura do índio, à cultura do negro, que é muito mais forte do que se pensa.
Portanto, é uma cultura extremamente plural, extremamente rica, talvez como
nenhuma outra cultura regional do Brasil. Mesmo com aqueles valores
questionáveis, temos valores que são extremamente importantes nesse mundo de
hoje, nesse mundo de individualismo. Um é o da hospitalidade. Todos nós, desde
pequenos, aprendemos esse valor. Ele nos é ensinado na família, na escola. O
gaúcho sempre é ensinado que, quando chega alguém em sua casa, tem que ser
hospitaleiro, tem que hospedar. Outro valor é o da lealdade, que é
importantíssimo, e o valor da liberdade. Talvez nenhuma cultura regional do
nosso País tenha isso. Isso não é “patriotada”, é uma constatação. Corresponde
a uma determinada situação histórica, pelas situações que tivemos de enfrentar
para defender este país-continente que é o Brasil, o valor da liberdade, de que
a Semana Farroupilha é muito repleta de situações, onde esse valor ético,
universal esteve presente.
O
resgate da nossa cultura não pode ser uma simples volta ao passado, um simples
culto. Eu sempre prefiro falar que esse resgate é das nossas raízes culturais,
dos nossos valores, um resgate que traga essa questão da pluralidade, o
respeito à diferença, porque sem isso nós não construímos a democracia, que não
é a uniformização de todo o mundo: é a convivência dos diferentes. Acho que a
cultura gaúcha, pela sua pluralidade, tem isso muito forte. Esses valores
éticos temos que resgatá-los, especialmente no mundo de hoje.
Visto
dessa forma, acredito que a nossa cultura tem uma forte vocação para a
resistência cultural nesses tempos de neoglobalização, onde temos um poderoso
esquema de colonialismo cultural, nunca visto, que quer impor ao mundo inteiro
a uniformização do gosto, dos padrões estéticos, de consumo, éticos; enfim, uma
neoglobalização que quer transformar em escombros a diversidade cultural dos
povos. A cultura gaúcha tem, exatamente por essa pluralidade, uma vocação muito
forte para a questão da resistência cultural.
Com
a permissão do Gaúcho da Fronteira, de quem também sou fã, eu também diria que
nós temos coragem de dançar de bombacha no “Rock in Rio”. Isso é fundamental,
quando nós temos essa massificação cultural tentando se impor e nos transformar
a todos num pensamento único, que é uma coisa perigosíssima para a democracia.
Nessa Semana Farroupilha, temos que resgatar essas coisas, e isso tem todo um
conteúdo de atualidade e um instrumental que nós temos para fazer a necessária
resistência cultural.
Quero
parabenizar os nossos homenageados e, num certo sentido, agradecer pelo seu
trabalho, porque nos trazem à tona essas coisas. De uma forma ou de outra nos
trazem à tona esses valores. Desejamos que possam continuar por longos anos,
muitos anos ainda, fazendo esse trabalho de resgate de nossas raízes culturais,
a nossa identidade cultural nativista frente a essa avalanche do colonialismo
cultural.
Quero
a permissão de Barbosa Lessa - não tenho o mesmo talento - para ler,
rapidamente, um poeminha, já que o Ver. Nedel falou “querência”, e essa é uma
palavra muito forte. Fiz um poeminha bem curtinho, que se chama “Querência”:
“Querência/momento
fugaz da nossa infância/que os caminhos do tempo/vão apartando na
distância./Nós/andejos, teatinos a buscar futuros/numa frenética e ingênua
insistência/na verdade buscamos tão somente/a resposta aos enigmas da
existência/e encontrar a nós mesmos/a matear sentados à cancela/da Querência!”
Muito
obrigado. (Palmas.)
(Não revisto
pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: O Ver. Lauro
Hagemann está com a palavra, Líder do PPS.
O SR. LAURO HAGEMANN: (Saúda os
componentes da Mesa e demais presentes.) A minha vertente partidária me impele
a respeitar e a cultuar as tradições das várias regiões do mundo porque é nesse
culto e nesse respeito que se constroem as nacionalidades. Essas pequenas
diferenças regionais constituem o conjunto da sociedade humana. E nós,
felizmente, aqui no Rio Grande, temos este componente.
Os
oradores que me precederam já citaram o que significa a Semana Farroupilha, que
nós estamos comemorando.
Porto
Alegre, historicamente, está inserida nesta História Farroupilha de maneira até
arrevesada para alguns. Mas nós somos parte desta História. E Porto Alegre tem
essa tradição de cultuar a Semana Farroupilha. É o que nos estamos fazendo.
A
minha vertente partidária respeita e cultua esse tradicionalismo pelas razões
que já expendi. Muitas vezes, não queremos entender manifestações ostensivas de
folclore, de tradição, de nativismo, porque temos a convicção de que essas
coisas têm de ser tratadas com mais profundidade, com mais cientificismo, com
menos aparências exteriores. E é isso que, às vezes, nos distingui no exame
dessa questão.
Mas
quero, rapidamente, sem prolongar mais essa Sessão, falar sobre os
homenageados: o Vilmar Romera é um comunicador como eu, esparrama a tradição e
o folclore através dos seus instrumentos de comunicação: rádio, televisão. O
Renato Borghetti é um instrumentista, filho do Rodi e da Alda, meus velhos
conhecidos; já se notabilizou pelo instrumento que abraçou e é um dos expoentes
da nossa cultura. O Barbosa Lessa é meu velho conhecido e amigo, jornalista,
publicitário, comunicador, literato, pesquisador, todas as coisas que se possa
dizer de alguém que tem a cabeça do Barbosa Lessa ele faz. Eu não posso deixar
de falar também nos patronos destes prêmios distribuídos hoje, principalmente
de dois deles, que são os que vão ser homenageados.
O povoeiro Lupicínio Rodrigues, que, embora
produzindo música urbana, lá pelas tantas investiu numa música campeira - “A
felicidade” -, mas foi um rápido lapso. O Lupicínio era um artista citadino e é
uma das representações mais efetivas da memória gaúcha no cenário
artístico-nacional.
Muitos
aqui conheceram Glaucus Saraiva, inclusive eu; apresentava-o na Rádio Novo
Hamburgo uma noite por semana - isso há quase cinqüenta anos. Já lá vai um
bocado de tempo! Depois nos encontramos aqui.
Barbosa
e Glaucus são uma simbiose perfeita do que se pretendia com esse movimento
tradicionalista: a pesquisa profunda das origens, não só das danças, dos
cantos, da indumentária, mas principalmente do pensamento, do que inspirava
essa cultura que nos é comum.
Então,
a Câmara de Porto Alegre está tendo hoje a grata satisfação de homenagear, com
o Prêmio Lupicínio Rodrigues, Renato Borghetti; com o Prêmio Glaucus Saraiva,
Barbosa Lessa, e concedendo a cidadania ao Vilmar Romera, que engrandece a
constelação dos cidadãos desta Cidade.
Nesta
Semana Farroupilha, que se encerra domingo, é grato para a Câmara Municipal de
Porto Alegre, que comemorou há pouco duzentos e vinte e cinco anos,
proporcionar esta festa à Cidade.
Aos
nossos homenageados: esta data tem um significado muito especial para todos
nós, pois eles souberam engrandecer, sendo merecedores do recebimento deste
galardão. Eu só tenho a felicitá-los e a dizer que Porto Alegre se sente
inserida neste contesto mundial através dos seus tradicionalistas. Muito
obrigado.
(Não revisto
pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Convidamos o Ver. Gilberto
Batista, proponente desta homenagem ao Vilmar Romeira, a quem caberá a
distinção da entrega. Com a devida vênia de todos, solicito que compareça à
Mesa para partilhar deste momento alguém que eu considero a outra metade do
Vilmar Romeira, o seu mais leal companheiro, o Alencar Feijó. Sem ele esta
homenagem não poderia realizar-se. (Palmas.) Peço aos dois que aguardem, porque
vou seguir uma sugestão da nossa Relações Públicas, e nós vamos proceder à
entrega das distinções conjuntamente.
Solicito,
da mesma forma, para entregar o Prêmio Artístico Lupicínio Rodrigues ao
instrumentista Renato Borghetti seus genitores e para que nos dêem esse
privilégio de tê-los aqui conosco. (Palmas.)
Naturalmente,
eu incluo entre nós, para complementar a entrega, o filho de quem designa a
homenagem, o meu querido amigo Lupicínio Rodrigues Filho. (Palmas.)
E
para entregar o Prêmio Glaucus Saraiva ao nosso querido Luiz Carlos Barbosa
Lessa, penso que eu não poderia convidar pessoa mais qualificada e mais
integrada ao espírito da nossa homenagem do que o Presidente do Movimento
Tradicionalista Gaúcho Dirceu Brizola, para que seja o portador desta
homenagem. (Palmas.)
Pela
ordem, gostaria de solicitar ao representante do Sr. Prefeito Municipal que,
conforme determina a Lei, se integre conosco nesta homenagem especial da
entrega da distinção de Cidadão Honorário de Porto Alegre ao grande comunicador
Vilmar Romeira.
(É feita a
entrega do Diploma.)
Solicitamos
ao casal Borghetti e ao amigo Lupicínio Rodrigues Filho que façam a entrega do
Diploma do Prêmio Artístico Lupicínio Rodrigues a Renato Borghetti.
(É
feita a entrega.) (Palmas.)
Solicito
ao Sr. Dirceu Brizola que faça a entrega do Prêmio Glaucus Saraiva ao Sr.
Barbosa Lessa.
(É
feita a entrega.) (Palmas.)
Retomando
os trabalhos, devemos conceder a palavra aos três homenageados. Pela ordem, com
a palavra este jovem instrumentista gaúcho Renato Borghetti, a quem o
cerimonial da Casa pretendia vetar a entrega do prêmio no dia de hoje, porque
ele não estava com a sua gaita-ponto.
O SR. RENATO BORGHETTI: Sr.
Presidente, Srs. Vereadores, eu não sei se é muito pertinente falar. Tocar é
mais fácil. Eu só queria dizer que eu, como porto-alegrense, recebendo uma
homenagem nesta Casa, que representa o povo porto-alegrense, e eu, como
porto-alegrense, sinto-me muito honrado com o Prêmio Lupicínio Rodrigues, cujo
proponente foi o meu amigo Reginaldo Pujol. Sinto-me mais honrado ainda estando
acompanhado dessas figuras. Vilmar Romera, grandes cavalgadas que fizemos,
grande amigo! Tio Lessa, não esqueço que, quando Secretário de Educação e
Cultura, resolveu profissionalizar alguns artistas, tanto da área da música
quanto da dança, e eu fui a uma ou duas reuniões. Quando foi na terceira
reunião, eu disse: “não quero ser profissional nada, não gosto muito disso;
prefiro ficar tocando no 35.” O Lessa lembra isso hoje, e estou muito contente
em estar aqui hoje com o amigo e dizer que Porto Alegre e o Rio Grande do Sul
vão ter sempre uma gaitinha-ponto à disposição para tocar para vocês. Muito
obrigado. (Palmas.)
(Não revisto
pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com muita
alegria, eu convido agora para ocupar a tribuna um expoente da cultura do Rio
Grande, um dos seus mais marcantes intelectuais em todos os gêneros artísticos.
Tem na literatura pontificado e se transformado em um verdadeiro arauto desse
novo enfoque do tradicionalismo gaúcho a partir daquele movimento que
gerou o 35-CTG. Eu quero transferir a
palavra ao nosso homenageado, a quem a Casa entregou o Prêmio Tradicionalista
Glaucus Saraiva. Eu convido o escritor, o trovador, o intelectual, o patrão do
CTG, o companheiro de lutas tradicionalistas, para que nos brinde com um
pronunciamento da tribuna.
Com
a palavra, o nosso grande intelectual dos pampas, Luiz Carlos Barbosa Lessa.
(Palmas.)
O SR. LUIZ CARLOS BARBOSA LESSA: Sr.
Presidente, a quem dedico, inclusive espiritualmente, pelas Furnas do Jarau,
onde lá está a Teiniaguá me tentando há tantos anos, eu tentando abraçá-la, ela
fugindo, mas fugindo de maneira a que eu continue perseguindo, com amor, com devoção.
Minha homenagem àquela partezinha lá do Sul do nosso Estado. Também gostaria de
abraçar o Nedel, já que temos como ponto de ligação aquela admirável e
incrivelmente desconhecida imagem da Igreja Matriz de São Luiz Gonzaga, que é a
Nossa Senhora do Chimarrão. E, se eu fosse citando todos aqueles velhos amigos
que aqui eu revejo, só na citação desses nomes teríamos despendido um tempo
além do razoável. Mas eu sou forçado a dizer alguma coisa rapidamente sobre o
que representa este prêmio, este diploma para mim.
Eu
perigo cair em dois extremos: um, é que, cedendo a minha emoção, a minha
sensibilidade, eu caia no pieguismo, na repetição de certas palavras muito
doces, mas ingênuas, talvez, e nós não estamos em época para ingenuidades.
Outra é também, traduzindo uma parte do meu sentimento, eu entrar numa vereda
de grande eloqüência e esporrar, aqui, foguetes verbais como se fosse um novo
Silveira Martins, e não será esse o objetivo. Então, eu prefiro, evitando tanto
a pieguice, tanto quanto possível, e a grande eloqüência, dizer algum fato que
valha pela sinceridade da evocação. Então, eu recordo quando eu cheguei, aos
quinze anos de idade, a Porto Alegre, trazendo, no modo de andar, no modo de
conversar, principalmente no meu modo de sentir, aquele brasão inconfundível daquele indiozito do
interior de Piratini, caindo nesta Cidade onde o destino me chamava. Porto
Alegre me recebeu bastante mal. Porto Alegre me assustou. Seriam inúmeros os
episódios daquela fase. Na primeira semana de aula no Julinho, tivemos aulas de
educação física e fomos fazer a aula no Parque Farroupilha, então Parque da
Redenção, pois estava em tratativas um local definitivo para nossas aulas de
educação física. No final dessa primeira aula, o professor reuniu toda a turma
e disse que, a partir da próxima semana, teríamos aula no Estádio dos
Eucaliptos, e aquele guri de Piratini caiu na asneira de perguntar para o
professor onde ficava o Estádio. Vi aquela multiplicada presença de olhos
apalermados diante de um colega que não conhecia um dos pontos mais importantes
da Cidade de Porto Alegre. Perguntei também ao professor como se chegava ao
Estádio. O professor, que estava irritado com a minha ignorância de troglodita,
me disse que, perguntando, eu chegaria lá. Esse foi um dos episódios iniciais
do meu contato com a nova escola, com os novos colegas e com os “magister” que
iria encontrar.
Iria
longe na evocação daquela primeira reação perante um grossito que chegava para
tentar se civilizar. Não era só eu que me sentia alijado por Porto Alegre.
Amigos meus também vindos do Interior - o Aurélio, o Ariosto, o Krieger... Nos
encastelávamos apoiando um ao outro, tomando chimarrão na pensão onde morava o
Aurélio, na Marechal Floriano. Então, nos encontrávamos com aquela marca de
interioranos, e fomos agüentando as pontas. Percebo que havia alguma razão para
que os meus colegas ficassem “trocando orelha” perante aquele guri que havia
chegado do Interior. O mesmo cara que não sabia onde ficava o Estádio dos
Eucaliptos perguntava para um e outro, com entusiasmo, com curiosidade, onde
ficava - algo que o guri conhecia só por fotografia por ter sido inaugurado em
1935 - o Monumento a Bento Gonçalves. “Que Bento?” - perguntavam. “Bento
Gonçalves, General Farroupilha” - ele respondia. “Não sabemos quem é Bento,
muito menos onde ele está” - respondiam. Era uma série de contradições.
Fui
percebendo com o tempo e, passados muitos anos, me dei conta de que isso deve
ter sido uma malandragem, não só comigo, mas uma malandragem de Porto Alegre,
como uma comunidade autêntica, “botando na prensa” quem chegava aqui para
coabitar esta bela região junto ao Guaíba e com gente tão boa. Eles pensavam:
“vamos ver se esse cara tem condições de se assentar aqui; do contrário, que se
mande. Que ele prove que tem condições.” Fui reagindo até encontrar os
companheiros do Departamento de Tradições do Júlio de Castilhos, até ajudar a
fundar o CTG-35 e dar andamento ao culto às tradições gaúchas. Entendo hoje
como uma propositada malandragem da Cidade de Porto Alegre para que provássemos
que estávamos em condições de viver aqui dignamente.
Tive
a satisfação de morar em dois períodos aqui, em Porto Alegre: um de 1945 a
1954, quando tive a satisfação de aqui chegar e, ao sair, ter deixado, graças a
companheiros que me estimularam, algo que não existia antes da minha vinda, que
era o CTG-35, que até hoje está lá. No início, não tinha nem sede, mas está lá,
abrigando rio-grandenses e brasileiros com a sua pira, que não é só da Semana
Farroupilha, mas é o fogo campeiro que há de janeiro até dezembro.
Na
segunda vez em que aqui estive, eu percebi que Porto Alegre ainda estava me
atossicando para eu demonstrar se eu podia fazer mais alguma coisa, tal como
aconteceu na minha primeira vinda, de que resultou na participação de outros,
na fundação do CTG-35. Da segunda vez, quando daqui me despedi, deixei algo que
não havia antes e que resultou do amor a esta terra, que é a Casa de Cultura
Mário Quintana. Então, com o 35 e com a Casa de Cultura Mário Quintana, eu acho
que eu já teria dado a minha contribuição, a minha devoção a esta terra; mas,
ainda assim, eu fico devendo muita coisa. Devendo, por exemplo, à Nossa Senhora
Mãe de Deus, integrante da Sagrada Família, a felicidade de aqui ter encontrado
e, sob as bênçãos da Sagrada Família, na Rua José do Patrocínio, ter casado com
aquela autêntica prenda que há 36 anos me acompanha com o espírito de
companheirismo, só encontrado, por exemplo, nos Borghetti e em alguns outros.
Com
tantas cidades que existem no mundo, aqui eu tive a graça de ver nascer a minha
filha Valéria, que mais tarde seria também uma prenda do 35, lá dançando e
cultuando as nossas tradições. E mais: um filho, o Guilherme, ambos nascidos
aqui. O Guilherme, ainda hoje, peleando como um cidadão digno, do maior
respeito, porque é incansável na seriedade com que contribui para o
engrandecimento desta comunidade, principalmente no atendimento na área do
SESC. É um belo cidadão integrando uma notável e respeitável entidade.
Sou
grato a Porto Alegre por ter me dado essa felicidade, mas estávamos empatados
até o dia de hoje. Houve uma quebra dessa igualdade com o ato tão notável da
Câmara Municipal de me convocar para receber um abraço representado nesse
diploma de reconhecimento e de incentivo. Passei a ser devedor, com muita
alegria, por essa admirável prova de amizade da Câmara. Sinto-me bem sendo
devedor. Agora, me sentirei mais leve se daqui sair em igualdade de condições,
nem devendo mais a Porto Alegre, nem Porto Alegre me devendo. Estaremos quites,
iguais.
Então,
dentre tantas pessoas que aqui eu reencontrei - iria longe se evocasse cada uma
delas -, conheci hoje uma pessoa que tinha muita vontade de conhecer –
conhecia-o apenas de nome -, que é o Padre Mário Escopel, cavaleiro da fé,
cavaleiro da paz. Eu pediria, sem pieguice nem grande eloqüência, mas com toda
a sinceridade, que o Padre Mário Escopel, ainda que em silêncio, numa postura
leve, seja transmissor à Nossa Senhora, Madre de Deus, pela bênção que me
proporcionou ao longo de todas essas etapas que vivi em Porto Alegre. Vibrei
com Porto Alegre e hoje me reencontro com Porto Alegre, representada por gente
tão querida. Muito obrigado, Padre Mário Escopel. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto
pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: O Sr. Vilmar Romera está com a
palavra.
O SR. VILMAR RIBEIRO ROMERA: (Saúda os
componentes da Mesa e demais presentes.) Eu quero dizer que o Ver. Gilberto
falou em São Jerônimo e que nós somos cobrados por muitas pessoas porque somos
filhos de Arroio dos Ratos. Quando nós éramos piás, Arroio dos Ratos fazia
parte do Município de São Jerônimo. Por isso consta na nossa identidade a
naturalidade de São Jerônimo, mas somos, com muito orgulho, carvoeiros, filhos
de Arroio dos Ratos.
Eu
quero dizer aos senhores que sou um homem feliz por ter amigos. O Ver. Gilberto
Batista foi modesto demais quando disse que eu havia lhe dado um emprego e ele
foi entregar santinho. Os senhores não sabem. Ele praticamente pagou para mim
para fazer, ao meu lado, uma campanha quando eu e o Nico inventamos de ser
candidatos a Deputado Federal na Constituinte. Levamos uma saraivada
maravilhosa e estamos tranqüilos por isso.
O
Ver. Reginaldo Pujol usou a expressão “meu irmão”. Eu a uso muito
carinhosamente com os meus amigos. Portanto, eu digo: meus irmãos!
Companheiros, aqui eu vejo o pessoal da Keko e da Cabral, meus amigos.
Secretário de Turismo de Tramandaí; colegas do BANRISUL; Conselheiros do
CTG-35; velhos amigos; Benfatto, atual Patrão do CTG-35; Brizola, que também conduz a nossa entidade
maior, o nosso MTG. Vejo, aqui, artistas que me dão muito orgulho. Muito,
Pimentel, Paulinho Pires, meu irmão, meu amigo; Gaúcho da Fronteira; Edson
Otto; meus amigos Cavaleiros da Quinta, que nesta semana estiveram comigo
levando o barco Seival até Tramandaí; meus irmãos Cavaleiros da Paz; irmão Omair, que vem com o Félix e o Padre
Mário; Dr. Moraes; a figura do São Borja; do Dida, dos Cavaleiros da Paz; Dr.
Régis Bruck, Cavaleiro da Paz; Borghettão; o alemão e o Elton. Será que eu
mereço? Não vou ser modesto. Eu acho que mereço. Não é debalde que praticamente
trinta pessoas têm um nome a escolher e escolhem por unanimidade esse nome. Eu
acho que mereço.
Vim
de família pobre, orgulho-me disso e quero aqui pedir, com muito carinho, que,
assim como o Borghetti teve a alegria de receber o título das mãos de seu pai e
de sua mãe, eu também gostaria de recebê-lo das mãos de minha mãe, Dona
Paulina, oitenta e cinco anos de idade. Esta, sim, é que vai levar essa
medalha.
Pergunto
eu: vale a pena ter amigos? Vale. Vale a pena se passar por um momento deste?
Vale. Porque o Borghettinho, que vejo aqui, é um piá que foi criado dentro do
35. O Lessa fez o Borghettinho, que se criou no meio, e eu vivi o meio do 35.
Eu fui de tudo no 35, inclusive o famoso carregador de tábuas, quando de dois
em dois anos nos mudávamos. Os nossos feriados, sábados e domingos passávamos
carregando tábua. Até que um dia a figura de Glaucus Saraiva, que trabalhava no
Governo Triches, deu-nos a alegria de
dizer: “na Av. Ipiranga, vocês vão
parar.” E paramos.
Orgulho-me
de dizer que o Borghettinho, com os meus filhos que estão ali, o Ricardo e o
Júnior, fizeram parte da Invernada Mirim e Juvenil do 35. O Borghettinho, com
todo aquele tamanho, porque já nasceu grande, sapateava, e eu era um dos poucos
caras que tinha a felicidade de fazer o Borghettinho falar. Então, para
declamar, o Borghettão me chamava: “Romera, pede para o Renato.” Eu chamava ele
para um canto. Lá vinha ele. E eu lhe perguntava: “o que é rapaz?” Ele
respondia: “eu vou dizer ‘Bochincho’.” Isto era a única coisa que ele dizia;
isso quando ele falava, porque hoje ele fala.
No
35 eu vivi minha vida. Por que de bota e bombacha? Eu estou aqui, porque eu
devo, sinceramente, noventa por cento da minha vida ao meio tradicionalista em
que vivo, porque ali eu me encontrei, ali eu criei a minha família, e meus
filhos foram criados no meio, e hoje, com rádio e televisão, eu me comunico,
porque eu tive, dentro do 35, uma escola, que é o meu CTG, é um pedaço da minha
vida. Amo o 35, vou morrer amando o 35.
Basta dizer que fui patrão quatro anos. Quando saí, fui convidado por mil
entidades, mas eu sou fiel ao 35. O 35 é um pedaço da minha vida. E, quando sou homenageado aqui, o 35 também
é homenageado, porque eu faço parte do nosso 35.
Quero
dizer que as coisas boas acontecem para a gente, e eu sou um homem feliz. Sou
um homem de família pobre. Lembrava-me, quando estava ali sentado, que fui
empregado do Hotel Paz, na Av. Borges de Medeiros, e, como não tinha uma roupa
melhor - naquele tempo não existia ainda o brim coringa -, minha mãe fazia eu
usar bombachas, e eu, de chinelo e bombachas, ia buscar verdura no Mercado
Público, com um balaião, grudado num bonde que ia até lá na ponta do Mercado e
sendo gozado por um monte de gente. Eu agüentava no osso do peito. Usar bombachas? Há quarenta anos atrás? Aqui, no Centro de
Porto Alegre, carregando verduras? Era uma loucura, mas não tinha outra coisa
para colocar, e colocava aquelas bombachas.
Tive
a infelicidade de ser assaltado em Porto Alegre. Eu era entregador de roupas da
Lavanderia Coelho, que ficava na Rua Jerônimo Coelho, e um dia fui entregar um
cabide de roupas na Rua Riachuelo e o cara me chamou num canto da rua e eu fui
assaltado. Levou com ele o cabide e a roupa. Fui descontado do meu salário.
Naquela época, gurizão com doze, treze anos, fui assaltado. Isso me marcou. E
tive a alegria de entrar para a Rádio com treze anos e meio de idade, quando
arrumei um emprego na Rádio Itaí, de “office-boy”, limpando auditório. Na
época, eu varria o auditório, cobrava ingresso para entrada no auditório e era
operador da Rádio. Com quatorze anos e meio tive a felicidade de fazer, naquela
época, jovem ainda, um guri, a primeira novela - “O Preço da Felicidade” -,
junto com Sandra Lee e Rubens Alcântara. Com dezessete anos de idade fui
considerado o mais jovem locutor da madrugada no Rio Grande do Sul, na Galeria
do Rosário, 21º andar, na Rádio Princesa. Coisa boa!
Tenho
a alegria de dizer para o meu neto e para a minha neta que hoje eu sou Cidadão
de Porto Alegre, que um Gilberto Batista, de um futuro político invejável,
pelas suas maneiras, entendeu de botar o meu nome no círculo, que Reginaldo
Pujol inventou de avalizar. Vou contar para eles que esta medalha - vou tirar
uma foto com a Dona Paulina e dizer que também é dela - foi ganha com um certo
sacrifício de amor a este pago, a esta terra.
Realmente,
a melhor coisa que o homem faz é ter amigos. Quem não tem amigos não adianta
ter dinheiro no bolso, dizer que é dono do mundo, se não tiver um amigo ao
lado. Quem não tiver amigos não adianta ter fortuna.
Agradeço
a esta Casa. Vou levar dentro do meu coração este carinho. Tenho aqui ao meu
lado alguém que é também responsável por este momento, que é o Luizinho
Dexheimer, meu amigo e meu irmão. E o Alencar, que é metade mais um pouco, que
me deu, largou no meu bolso uma mensagem: “Deus é amor”. Vou levar para o meu
carro. Quem estiver agarrado a isto pode ter certeza de que realmente Deus é
amor. E está muito bem situado.
Volto
a repetir que amizade não se compra, se conquista. As injustiças: sempre há
alguém que as repara, que é o Deus maior. Viver a vida é a melhor coisa do
mundo. Muito obrigado a vocês, do fundo do coração. Como é bom ser gaúcho!
(Não revisto
pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Encaminhamo-nos
para o término da Sessão Solene que marcou, de forma muito positiva, os
festejos da Semana Farroupilha no Legislativo da Cidade.
Antes
de concluir, preciso, mais uma vez: agradecer a presença entre nós do ilustre
Promotor de Justiça do Estado, Dr. Altamiro Francisco Roque, integrante da Mesa
Diretora dos trabalhos, representando a Procuradoria-Geral da Justiça;
agradecer ao Presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho, a quem se destina
grande parte destas homenagens, porque sem esse Movimento certamente esta Casa
não estaria reunida no dia de hoje para cultuar a tradição do Rio Grande -
então, nele simbolizamos grande parte desta homenagem; agradecer aos demais
integrantes da Mesa. Em nome da Casa, agradeço a presença de quantos nos deram
o prestígio de estarem conosco neste dia em que se consolida, no Legislativo de
Porto Alegre, essa tradição de manter, de forma objetiva, a chama acesa do Rio
Grande do Sul nesta data alusiva aos feitos de 35. Evidentemente que, ao lado das pessoas já nominadas, eu teria que
voltar a me referir ao Chico Menna, nosso patrono do CTG Maurício Sirotsky
Sobrinho, aos Cavaleiros da Paz, que sempre estiveram conosco integrados -
inclusive seu líder maior, Antônio Fagundes, esteve conosco na abertura dos
trabalhos -, aos dirigentes do GTS, como Moraes, aos artistas que aqui
compareceram. Enfim, a todos. E eu me sinto extremamente gratificado. Eu sou
feliz como homem público. Estou feliz como gaúcho, estou feliz como integrante
da sociedade porto-alegrense, porque vejo que o esforço de homens como Luiz Carlos
Barbosa Lessa, Antônio Augusto, os pioneiros do 35 estão frutificando. De forma
muito categórica, a nossa TV Bandeirantes, que está registrando esse
acontecimento e que é a imagem viva do Rio Grande, poderá testemunhar para o
futuro o que foi, o que é esta Sessão Solene que hoje se realizou.
Ao
Cidadão de Porto Alegre Vilmar Romera, ao Luiz Carlos Barbosa, a quem tive a
honraria e privilégio de propor a distinção do Prêmio Glaucus Saraiva - que,
como alguém disse aqui, se não me engano o Lauro, é uma simbiose perfeita, é o
ajustamento entre a criatura e o criador, eis que todos nós nos acostumamos,
ainda meninos, a ver esta luta vanguardeira pela tradição gaúcha que o Glaucus
Saraiva e o Luiz Carlos Barbosa Lessa iniciaram em momentos inspirados -, por
fim, ao jovem talentoso instrumentista do Rio Grande, aquele que nos resgatou
por inteiro, aquele que levou a gaita-ponto a universalizar-se pela excelência
das melodias que ele instrumentaliza, ao Borghettinho, autor da nossa vingança
que redimiu a música do Rio Grande, até ontem símbolo da graçura e hoje símbolo
de bom gosto e atestado de uma cultura musical, aos três, e a todos vocês,
muito obrigado.
Eu
sou feliz em conduzir esta reunião. Eu sonhei, um dia, que nós poderíamos aqui,
em Porto Alegre, afirmar a nossa condição de gaúchos conscientes e
responsáveis, e este dia eu vivi junto com vocês.
Agora,
para concluir, vamos ouvir, em pé, o Hino Rio-Grandense.
(É
executado o Hino do Rio-Grandense.)
Estão
encerrados os trabalhos da presente Sessão Solene.
(Encerra-se a
Sessão às 21h44min.)
* * * * *