ATA DA TRIGÉSIMA QUINTA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 17.09.1998.

 


Aos dezessete dias do mês de setembro do ano de mil novecentos e noventa e oito reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezenove horas e trinta e cinco minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a homenagear a Semana Farroupilha, nos termos do Requerimento nº 190/98 (Processo nº 2635/98), de autoria da Mesa Diretora; à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Vilmar Ribeiro Romera, nos termos do Projeto de Lei do Legislativo nº 62/98 (Processo nº 1432/98), de autoria do Vereador Gilberto Batista; à entrega do Prêmio Tradicionalista Glaucus Saraiva ao Senhor Luiz Carlos Barbosa Lessa, nos termos do Projeto de Resolução nº 04/98 (Processo nº 509/98), de  autoria do Vereador Reginaldo Pujol; e à entrega do Prêmio Lupicínio Rodrigues ao Instrumentista Renato Borghetti, nos termos do Projeto de Resolução nº 05/98 (Processo nº 511/98), de autoria do Vereador Reginaldo Pujol. Compuseram a MESA: os Vereadores Luiz Braz e Reginaldo Pujol, respectivamente, Presidente e 3º Secretário da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor Olinto Chagas, Assessor-Cultural da Prefeitura, representando o Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Senhor Altamir Francisco Arroque, Promotor de Justiça, representando o Procurador-Geral  de  Justiça do Estado; o Senhor Dirceu Brizola, Presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho; o Coronel Irani Siqueira, representante do Comando Militar do Sul; o Senhor Luiz Valdemar Dexheimer, representante do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore - IGTF; os Senhores Vilmar Ribeiro Romera, Luiz Carlos Barbosa Lessa e Renato Borghetti, Homenageados; o Vereador Lauro Hagemann, Secretário "ad hoc". Também, foram registradas as presenças do Senhor Lupicínio Rodrigues Filho, do Artista Gaúcho da Fronteira, do Senhor Francisco Carlos Ferreira Mena, Patrão do CTG Maurício Sirotski Sobrinho, e de familiares e amigos dos Homenageados. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos  para, em pé, ouvirem à execução do Hino Nacional. Após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Mesa Diretora e das Bancadas do PFL, PTB, PDT, PMDB e PSB, analisando o significado da participação deste Legislativo nas comemorações relativas à Semana Farroupilha, discorreu acerca das características que identificam o ato de “ser gaúcho”. Também, ressaltou os motivos que o levaram a propor as homenagens hoje prestadas aos Senhores Luiz Carlos Barbosa Lessa e Renato Borghetti. O Vereador Gilberto Batista, declarando que as comemorações da Semana Farroupilha permitem “reafirmar, com o maior amor possível, as nossas tradições, a nossa cultura e os nossos costumes”, destacou seu  orgulho  por  integrar a comunidade gaúcha, parabenizando os Homenageados e historiando acerca da história pessoal e profissional do Senhor Vilmar Ribeiro Romera, que hoje recebe o Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre. O Vereador João Carlos Nedel, em nome da Bancada do PPB, disse que “o Estado de melhor qualidade de vida é também o Estado de história mais dignificante do Brasil”, relembrando fatos marcantes da história do Rio Grande do Sul e discorrendo acerca da importância dos cidadãos hoje homenageados, como representantes da cultura gaúcha. Ainda, declamou o poema “Feitiço Índio”, de autoria do Senhor Luiz Carlos Barbosa Lessa. O Vereador José Valdir, em nome da Bancada do PT, teceu considerações acerca do significado dos Senhores Vilmar Ribeiro Romera, Luiz Carlos Barbosa Lessa e Renato Borghetti para a cultura gaúcha, respectivamente, nas áreas de comunicação, de literatura e de música, destacando a necessidade de valorização da herança cultural e da pluralidade que essa herança possui no Rio Grande do Sul. Finalizando, declamou o poema “Querência”, de sua autoria. O Vereador Lauro Hagemann, em nome da Bancada do PPS, relembrando a forma como Porto Alegre insere-se historicamente nos acontecimentos relativos à Revolução Farroupilha, saudou os Homenageados, comentando a atuação dos mesmos como divulgadores e incentivadores da cultura do Rio Grande do Sul, não apenas no Estado, mas nacional e internacionalmente. A seguir, o Senhor Presidente convidou o Vereador Gilberto Batista e o Senhor Olinto Chagas a procederem à entrega do Diploma e da Medalha referentes ao Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Vilmar Ribeiro Romera; convidou os pais do Músico Renato Borghetti e o Senhor Lupicínio Rodrigues Filho a procederem à entrega do Prêmio Artístico Lupicínio Rodrigues ao Músico Renato Borghetti; e convidou o Senhor Dirceu Brizola a proceder à entrega do Prêmio Tradicionalista Glaucus Saraiva ao Senhor Luiz Carlos Barbosa Lessa. Também, o Senhor Presidente convidou o Senhor Alencar Feijó a integrar a Mesa dos trabalhos. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Senhores Renato Borghetti, Luiz Carlos Barbosa Lessa e Vilmar Ribeiro Romera, que agradeceram a homenagem prestada pela Casa. Após, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem à execução do Hino Rio-Grandense, agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às vinte e uma horas e quarenta e quatro minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Luiz Braz e Reginaldo Pujol e secretariados pelos Vereadores Reginaldo Pujol e Lauro Hagemann, este como Secretário “ad hoc”. Do que eu, Reginaldo Pujol, 3º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (Luiz Braz): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a homenagear a Semana Farroupilha e, também, a entregar o Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Sr. Vilmar Ribeiro Romera, entregar o Prêmio Tradicionalista Glaucus Saraiva ao Sr. Luiz Carlos Barbosa Lessa e entregar o Prêmio Lupicínio Rodrigues ao instrumentista gaúcho Renato Borghetti.

Convidamos para compor a Mesa o representante do Prefeito Municipal de Porto Alegre, Sr. Olinto Chagas, Assessor Cultural da Prefeitura; o Sr. Vilmar Ribeiro Romera, homenageado; o Sr. Luiz Carlos Barbosa Lessa, homenageado; o Sr. Renato Borghetti, homenageado; o representante do Procurador-Geral de Justiça, Sr. Altamir Francisco Arroque, Promotor de Justiça; o representante do Comando Militar do Sul, Cel. Irani Siqueira; o representante do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore - IGTF -, Sr. Luiz Dexheimer; o Presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho, Sr. Dirceu Brizola.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Executa-se o Hino Nacional.)

 

Ouviremos, em primeiro lugar, o pronunciamento de um componente da nossa Mesa Diretora da Câmara Municipal. O Ver. Reginaldo Pujol, escolhido para falar em nome da Mesa nesta homenagem à Semana Farroupilha, também é responsável por boa parte do brilho que temos hoje, nesta noite, com a presença de tantas personalidades ligadas ao tradicionalismo, ao nativismo. Ele propôs duas das homenagens que faremos no reconhecimento de toda a sociedade por tudo aquilo que os nossos homenageados representam para Porto Alegre e para todo o Rio Grande do Sul.

O Ver. Reginaldo Pujol falará em nome das Bancadas do PFL, PTB, PDT, PMDB, PSB e pela Mesa Diretora da Câmara Municipal.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Permito-me saudar, numa homenagem, os integrantes do Legislativo Municipal, o seu corpo de funcionários, numa demonstração clara de que também os servidores desta Casa estão plenamente integrados no culto às tradições do Rio Grande. Quero saudar todos os servidores do Legislativo Municipal na figura do Chico, o Francisco Menna, Patrão do CTG Maurício Sirotsky Sobrinho, da Câmara Municipal de Porto Alegre.

Companheiros, vivemos nesta Semana Farroupilha de 1998, quase na virada do século, no limiar do novo milênio, uma circunstância toda especial. Em verdade, o dia de hoje reitera outros tantos em que o Legislativo da Cidade se incorpora ao sentimento dos gaúchos e de forma coesa se integra por inteiro às homenagens que em todo o Rio Grande do Sul, da mais pequena cidade até a sua Capital, se realizam com o propósito de assinalar o feito de 35. Oficializada a Semana Farroupilha por lei municipal que tivemos o alto privilégio de subscrever em 25 de setembro de 1996, nela se inseriu, entre os eventos que necessária e obrigatoriamente teriam de ser efetivados nesta ocasião, disposição segundo a qual entre os eventos cívicos da Semana Farroupilha incluir-se-ia, obrigatoriamente, uma Sessão Solene da Câmara Municipal, efetivada em data próxima ao 20 de setembro. É o que hoje ocorre.

Em verdade, o Legislativo de Porto Alegre, quando se soma à cultura rio-grandense, à cultura gaúcha, nada mais faz do que proclamar de forma altaneira que não é a circunstância de nós morarmos numa cidade industrializada que nos desvincula das nossas raízes. Eu discutia há alguns dias com o Ver. Lauro Hagemann, que é uma das nossas forças vivas do nosso Legislativo, até mesmo pela circunstância de ser ele um dos mais antigos e diligentes integrantes desta Casa, nós discutíamos com ele há poucos dias a circunstância de que, nesse Legislativo, o que mais dificilmente se encontra é alguém que tenha nascido na Cidade de Porto Alegre. A grande maioria de seus integrantes nasceu, como ele, em Santa Cruz do Sul, como eu, na minha Quaraí - enfim, em pontos diferentes do Estado. E todos nós, indistintamente, mesmo os que nascemos em Porto Alegre, guardamos no recôndito da nossa alma aquela forma diferenciada que nós, gaúchos, temos de ser brasileiros, que, longe de diminuir a brasilidade, a afirma. Porque o gaúcho - já foi dito pelo Watt - é brasileiro por consciência, por opção histórica e nunca por uma posição geográfica. Por sinal, todos sabemos que, se fossem acomodados os nossos antepassados, não haveríamos de ser brasileiros, porque geograficamente nos determinavam outra nacionalidade que não aquela por que conscientemente optamos e que tão bravamente defendemos. Pois são esses gaúchos, que são brasileiros por decisão própria, por opção histórica, que em 1835 entenderam de levantar armas para buscar afirmação de outros princípios, onde, longe de querermos a divisão da Pátria Brasileira, muito antes pelo contrário, queremos a afirmação da Pátria Nacional em cima de valores muito bem expressos no lema do movimento de 35, que pugnava por liberdade, igualdade e, sobretudo, junto delas, pela humanidade.

Esse humanismo libertário de 35 precisa mais do que nunca ser acentuado para que claro fique a todos os brasileiros que aqui, no Rio Grande, quando os gaúchos colocam o lenço branco ou o lenço vermelho e saem em suas tropeiradas a andar pelas ruas, tremulando a bandeira farroupilha, esse gesto é a reafirmação dos nossos princípios e que, nesta reafirmação, está ínsito, claro, este nosso compromisso com o destino da história da Pátria. Nós, os gaúchos, que hoje nos ufanamos de gozar da melhor qualidade de vida deste País, queremos que este País tenha a nossa qualidade de vida. E mais do que isso: que tenha o nosso estilo de ser, o nosso estilo de ser brasileiros, homens e mulheres compromissados com a sociedade, onde esses ideais sejam permanentemente cultivados como um compromisso indissociado da nossa própria natureza.

É por isso que nós buscamos, em 1995, estabelecer algumas referências que, de forma clara, enaltecessem os vultos históricos, não só aqueles que fizeram o 35, mas também aqueles que resgataram o 35 na memória brasileira e, sobretudo, que reafirmaram esses valores com a atuação corajosa, positiva e, sobretudo, engajada nesse processo que é o culto à tradição do Rio Grande. A instituição por esta Casa do Prêmio Tradicionalista Glaucus Saraiva, que este ano é outorgado a Luiz Carlos Barbosa Lessa, é, de forma concreta, a demonstração dessa disposição, a disposição de acentuar, de forma forte, que nós, gaúchos, somos reconhecidos àqueles que, resgatando a nossa memória, começaram esse movimento que afirma, reafirma e consolida essa nossa maneira diferente de ser brasileiro, que se diferencia especialmente pelo amor que temos a este País e pela responsabilidade social que assumimos na condição de habitante do extremo meridional da Pátria, onde com muito zelo cuidamos da tradição.

Eu vejo hoje aqui inúmeras pessoas que têm parcela significativa de importância na afirmação desses princípios, mas eu tenho por Luiz Carlos Barbosa Lessa uma admiração muito especial. Eu sei que a cultura do Rio Grande se mede de todas as formas. Há alguns que teimam em dizer que para ser gaúcho tem-se que tomar chimarrão, andar de bota, lenço no pescoço, montar a cavalo, comer churrasco, fazer fandango e que o demais não releva e não importa. Nós, que temos a consciência da responsabilidade e que percebemos a extensão do que é este movimento tradicionalista que mantém vivas essas chamas culturais, nós, que temos essa consciência, sabemos que ser gaúcho é muito mais. Ser gaúcho é ter um compromisso com a história desta Pátria; ser gaúcho é lutar, e lutar sempre, para que este País se consolide, respeitando as diversidades regionais e se afirmando, como era desejo dos nossos antepassados, de forma democrática, de forma republicana e de forma federativa.

Por isso, eu me sinto extremamente feliz, Vilmar Romera, quando a pena jovem do Gilberto Batista subscreveu, pela primeira vez, o Projeto de Lei que te outorgava a cidadania de Porto Alegre. Ele tinha o condão de preparar este grande acontecimento, porque a cultura do Rio Grande se mede na prosa fácil, na prosa inteligente, na escrita sábia deste grande tradicionalista Luiz Carlos Barbosa Lessa, mas se ouve na música, na sanfona do Borghettinho, e vai pelos ares brasileiros na voz dos nossos comunicadores e nesta simbiose que as circunstâncias hoje nos permitem, do jovem gaúcho, altaneiro, que leva este símbolo da música gaúcha para todos os quadrantes do mundo, este grande Borghettinho, este jovem talentoso, que faz do instrumento tradicional da nossa música uma própria peça de erudição da música do Rio Grande, que ele domina com tamanha perfeição. Estas circunstâncias, essa simbiose coloca aqui esse homem a quem o Rio Grande tanto deve por esclarecer esses equívocos históricos de interpretação do nosso passado glorioso e de nossa vocação brasileira, esse homem que já foi Secretário de Cultura do Estado e a quem o tradicionalismo permanentemente tem que reverenciar, eis que tem talento, brilho, sabedoria e paixão pelo Rio Grande. Pois bem: nesta reunião, irmão Romera, temos que estender aquele abraço, do tamanho do Rio Grande, temos que chamar todos para o nosso aconchego, e eu peço permissão a todos para concluir dizendo quatro palavras em alto e bom tom: Bah! Eu sou gaúcho!

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Registro as presenças do Dr. Lupicínio Rodrigues  Filho, familiares, amigos, companheiros e demais convidados dos homenageados.

Meu amigo, Ver. Pujol, V. Exa. falou em nome da Mesa, e, muito embora não sendo nascido aqui no Rio Grande do Sul - todos sabem que venho do interior de São Paulo -, já estou aqui nesta terra há vinte e três anos e amo demais o Rio Grande do Sul. Hoje, só saí de casa porque tinha assumido este compromisso. Estou com um problema de saúde e não vou poder continuar a presidir esta Sessão, mas tenho a honra de tê-la iniciado. Vou passar a presidência dos trabalhos a V. Exa., Ver. Pujol, e tenho certeza de que a Sessão vai ficar muito melhor agora sob a sua batuta, já que V. Exa. é o grande articulador desta noite, recebendo tanta gente importante aqui no Palácio Aloísio Filho, vivenciando tantas glórias e podendo, até, ter a satisfação de rever o meu irmão Gaúcho da Fronteira, que traz boas recordações de um passado, lá no início, quando estava começando no rádio aqui, no Rio Grande do Sul. Peço aplausos ao Gaúcho da Fronteira, que é uma figura que sempre me traz boas recordações. (Palmas.)

Solicito ao Ver. Reginaldo Pujol que assuma a presidência dos trabalhos. Peço perdão a todos os presentes, mas estou com problemas sérios de saúde para continuar presidindo a Sessão nesta noite. Passo a presidência a alguém que honra todas as tradições gaúchas, que vai continuar presidindo esta Sessão com o mesmo amor que tenho no coração por toda essa gente do Rio Grande do Sul, que me acolheu tão bem. Muito obrigado.

 

(O Ver. Reginaldo Pujol assume a presidência dos trabalhos.)

 

O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Pujol): Com muito orgulho assumo a presidência desta Sessão Solene e não posso me furtar de assinalar o nosso reconhecimento público ao Presidente da Casa, Ver. Braz, que febril, impedido, inclusive, por aconselhamento médico, de estar presente no dia de hoje, aqui, no Legislativo, fez questão de estar aqui para abrir os trabalhos desta Sessão. Aliás, permito-me dizer que isso demonstra mais a nossa qualidade de gaúcho. Somos sobreviventes do Brasil, porque sobrevivemos a esse clima tão inconstante que nos assola.

O Ver. Gilberto Batista falará como proponente do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Sr. Vilmar Ribeiro Romera, em seu nome e em nome da Bancada do PSDB, nesta Sessão, sobre a Semana Farroupilha.

 

O SR. GILBERTO BATISTA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Hoje estamos comemorando, nesta data importante, a Semana Farroupilha, porque o nosso Estado sempre foi marcado pela tradição de um povo guerreiro, bravo e independente. A prova mais recente disso é que há alguns dias a ONU divulgou e colocou o Estado do Rio Grande do Sul em primeiro lugar em qualidade de vida neste País. Mas isso só foi possível, só foi conquistado com muita determinação e arrojo, que são características desse povo gaúcho. Este Estado, senhores, é maravilhoso, justamente pelos seus contrastes e suas divisões. Ou somos colorados, ou somos gremistas; ou somos chimangos ou maragatos. Agora, uma coisa nós sabemos: todos nós, todos nós somos gaúchos.

Essas comemorações da Semana Farroupilha nos possibilitam reafirmar, com o maior amor possível, as nossas tradições, a nossa cultura, os nossos costumes, Vilmar, através da música, aqui representada por várias pessoas que são ligadas à nossa música gaúcha, através de nosso futebol, desse sotaque que é reconhecido em todo o Brasil. Por último, marcante é a nossa atuação no campo político nacional. Por isso, como o Ver. Pujol falou, eu também tenho muito orgulho de ser gaúcho.

Melhor data do que esta não existiria para, conjuntamente com essas comemorações da Semana Farroupilha, homenagear três pessoas que são a cara deste Rio Grande vencedor.

Quero parabenizar pela brilhante carreira esse jovem talentoso que encanta e embala não só o Rio Grande, mas todo o Brasil com a sua música. Recebe, Borghetti - não é nenhum favor -, recebe, justamente, este Prêmio Lupicínio Rodrigues.

Quero parabenizar também, por receber hoje, com muita justiça, o Prêmio Glaucus Saraiva, o Sr. Luiz Carlos Barbosa Lessa. Todos aqui, melhor do que eu, sabem que ele simplesmente foi o fundador do CTG-35, esse CTG que foi um dos pioneiros da nossa Capital.

É o primeiro projeto deste jovem Vereador aprovado nesta Casa. Tenho muito orgulho de tê-lo dedicado ao Vilmar. À relação da honrosa galeria de Cidadãos de Porto Alegre, eu, com simplicidade, quis agregar aos vários nomes competentes que temos lá um nome que, no meu íntimo, no meu ser, pudesse contemplar a garra, a vontade, a determinação, o amor à sua vida profissional, o amor ao nosso Rio Grande e, principalmente, o amor ao trabalho que tu fizeste, fazes e farás por Porto Alegre.

Foi difícil, no momento, eu encontrar esse nome com essas qualidades todas, mas encontrei. E faço hoje essa simples homenagem, muito singela, mas podes ter certeza, Romera, de que é com muito amor. O destino nos fez nos conhecermos de uma maneira impressionante. Conheci o Romera quando ele era candidato a Deputado Federal, numa época de sua vida. Eu era jovem, de origem pobre, precisando trabalhar. Ganhei uma oportunidade para entregar santinhos nas casas de Porto Alegre para o candidato a Deputado Vilmar Romera. Deus, hoje, me coloca nesta tribuna para homenagear aquele para quem, há alguns anos, eu pedia votos para que se elegesse Deputado Federal.

O destino é bonito e, quando penso nisso, me orgulho e me emociono, Vilmar, por estar neste momento, aqui nesta tribuna, fazendo o reconhecimento a uma das pessoas que, se Deus quiser, sempre lembrarei: a primeira a me dar emprego na minha vida pública, de entregar aqueles santinhos. Obrigado, Vilmar.

Além de tudo isso, Sr. Presidente, Vilmar Romera também é meu conterrâneo. Ele nasceu em São Jerônimo, como eu.

Vilmar, por todas as qualidades aqui mencionadas, quem tem somente a ganhar com essas minhas palavras é a Cidade de Porto Alegre. É esta Cidade que está de parabéns.

Vilmar é casado com a Sra. Maria de Lurdes e preza a instituição família. Sua vida profissional é exemplar. Querem espelhar-se?  Eu quero.

Vilmar Romera começou e terminou a sua carreira no BANRISUL. Vejam: lá ele começou a sua carreira e lá a terminou. E na lida cultural, índio velho, encontrei a tua dedicação total. Tu, que já foste patrão do CTG-35, tu, que já foste produtor e organizador de vários programas nas nossas tevês locais, como “Caminhos do Pampa”, na TV Pampa; “Fogo de Chão”, na TV Bandeirantes, que até hoje vai ao ar aos domingos pela manhã, que já passou por várias rádios, como Rádio Eldorado, Rádio Princesa, Rádio Tramandaí, foste Secretário de Turismo de Cidreira. Sei que fizeste um excelente trabalho, porque tudo o que fazes na tua vida queres fazer bem feito, e assim o faz. Participou de diversas cavalgadas, como a Cavalgada Internacional da Paz, que percorreu mais de seis países. Idealizou a Cavalgada Tropeiros do Brasil e coordenou a melhor cavalgada, que é a Cavaleiros do Mar. Só tu para idealizar uma coisa dessas!

Eu acho que a natureza, junto com a tua paixão pela tradição do Rio Grande, uniu o útil ao agradável. Por tudo isso, índio velho, usa sempre esse teu lenço vermelho no pescoço – tu, que és colorado assim como eu, que simboliza e vai simbolizar esse amor pelo Rio Grande. Que Deus sempre te ilumine nas tuas campeiradas. Olha, meu amigo, um abraço do tamanho do Rio Grande. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. João Carlos Nedel está com a palavra pelo PPB.

 

O SR. JOÃO CARLOS NEDEL: (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) “O Estado de melhor qualidade de vida é também o Estado de história mais dignificante do Brasil.”

O Estado mais progressista, a ponto de ter cinco de seus Municípios entre as dez primeiras posições do Brasil, é também o Estado que ocupou o Brasil com seus usos e costumes e seu culto à tradição, ostentando, sobranceiro, a condição de Estado em que mais desenvolveram o folclore, a tradição e a cultura regionais. O Estado que mais freqüentemente se coloca na liderança do pensamento e da ação política do Brasil é também o Estado que muito se orgulha de sua participação nos grandes momentos da vida e da cultura nacionais, sejam eles cruentos e heróicos, como a Revolução Farroupilha, sejam eles de demonstração do alto nível cívico e político de nosso povo, como é o caso da presente campanha eleitoral.

Comemorar a Semana Farroupilha, portanto, mais do que cumprir um ritual de exaltação ao passado, mais do que rememorar e louvar os feitos de nossos heróis, mais do que renovar a identificação com os ideais que deram têmpera ao caráter do povo gaúcho, é renovar o compromisso com o futuro, de que o presente é molde, êmulo e forja, alicerçado no patrimônio histórico, cultural e político-administrativo recebido de nossos antecessores.

É com base nessa convicção que a Bancada do Partido Progressista Brasileiro, que tenho a honra de compor juntamente com os Vereadores João Dib, Pedro Américo Leal, presentemente substituído pelo meu amigo e companheiro Beto Moesch, incorpora-se à homenagem que a Câmara Municipal de Porto Alegre presta à Semana Farroupilha e, ao fazê-lo, ressalto como uma grande oportunidade de solidificar o ideal rio-grandense e de reafirmar a perene integração do Rio Grande à República Federativa do Brasil e a busca incessante da realização do bem-comum entre seu povo. É de tal porte a magnitude deste momento, que engloba, numa feliz comunhão de objetivos afins, a homenagem que a comunidade porto-alegrense presta a três nomes de relevo que, ao receberem os galardões que hoje esta Casa lhes confere, tornam definitiva sua presença no cenário histórico-cultural de nossa época e que há de ser lembrado pelos pósteros como um dos mais relevantes de todos os tempos.

Assim, a Bancada do Partido Progressista Brasileiro presta sua homenagem com igual orgulho e alegria também ao ilustre Sr. Vilmar Ribeiro Romera, emérito tradicionalista e apresentador de rádio e televisão, que recebe o título honorífico de Cidadão de Porto Alegre; ao consagrado músico e compositor Renato Borghetti, cujo renome se expandiu em nível nacional a tal ponto que nenhum outro instrumentalista da música rio-grandense jamais chegou e que recebe o Prêmio Artístico Lupicínio Rodrigues; também ao incomparável homem de muitas habilidades - jornalista, publicitário, tradicionalista, pesquisador e co-fundador do pioneiro 35, Centro de Tradições Gaúchas, casado com a são-luizense honorária Nilza Lessa -, que recebe o Prêmio Tradicionalista Glaucus Saraiva. Todo o tempo de que eu hoje pudesse dispor, por maior que fosse, seria insuficiente para elencar as razões pelas quais esta Casa, em nome do povo de Porto Alegre, concede-lhes tais distinções. E todos os adjetivos de que pudesse fazer uso, buscando os melhores recursos do vernáculo, para enaltecer-lhes as qualidades, só fariam sentido se aplicados em superlativo.

Por isso, Sr. Presidente, Reginaldo Pujol, Srs. Vereadores, peço licença para culminar a homenagem do Partido Progressista relembrando o poema “Feitiço Índio”, de Barbosa Lessa, que se constitui em um dos mais lindos preitos à ancestralidade guarani e que diz:

“Vou chamar Tupã/para ouvir minha voz guarani/Tupã, deus das Campinas/rei da tribo onde nasci/Tupã, vem me ouvir!”

O entusiasmo, Sr. Presidente, e a paixão pela beleza e o encanto da obra de Barbosa Lessa me levam a relembrar, também, o antológico poema e a melodia inesquecível de sua lavra, que resgatam a Lenda do Negrinho do Pastoreio:

“Negrinho do pastoreio/acendo esta vela pra ti/te peço que me devolvas/a querência que perdi...”

E que Nossa Senhora do Chimarrão nos abençoe. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. José Valdir está com a palavra pela Bancada do Partido dos Trabalhadores.

 

O SR. JOSÉ VALDIR: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) A Câmara Municipal de Porto Alegre, a cidade de maior qualidade de vida, hoje homenageia três inquestionáveis expoentes da nossa cultura regional: Vilmar Romera, da comunicação; Barbosa Lessa, literatura, pesquisa e o resgate da nossa história; Renato Borghetti, do qual eu sou um dos admiradores, um autêntico virtuose num dos instrumentos mais típico do nosso folclore, que é a gaita-ponto.

Esta homenagem se dá em uma data muito apropriada, quando comemoramos a Semana Farroupilha. Precisamos fazer uma reflexão sobre a Semana Farroupilha para além do fato histórico gerador, que é a Revolução Farroupilha, e para além da alegria e dos festejos. Temos que fazer uma reflexão muito profunda sobre o significado do nosso legado cultural. A Semana Farroupilha  evoca essa reflexão.

Falo em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores, que hoje está perfeitamente integrada nesta discussão, tanto que criou um núcleo de nativistas e tradicionalistas do qual tenho a honra de ser um dos fundadores e que agora está sendo representado no nosso acampamento no Parque da Harmonia.

Acredito que a força desta nossa herança cultural é muito mais forte do que muitas vezes percebemos, e nos damos conta da força telúrica que tem a nossa tradição cultural quando estamos fora do Rio Grande do Sul e ouvimos algum termo gaudério, uma música gaúcha, o “Canto Alegretense” ou os solos do Borghettinho. E quando atravessamos o Mampituba, após alguns meses fora do Estado, sentimos aquele arrepio nas veias, como se a gente tivesse o sangue e a alma encharcados de pago. Aí, começamos a dar valor para esta força inegável que tem a nossa tradição cultural. A nossa cultura, como toda e qualquer cultura, é contraditória. Temos valores que são questionáveis e que temos que trabalhar. Temos valores, como o valor do machismo, como o valor da subalternidade, que, como em toda e qualquer cultura, correspondem a determinada formação histórica, a determinada situação histórica que gerou esse tipo de valor. Mas, inegavelmente, a nossa cultura tem dois aspectos muito importantes, e penso que todos aqueles que como eu, ou todos que querem e lutam por uma sociedade mais fraterna... Esses aspectos têm tudo a ver com a nossa cultura, com a nossa história cultural: um é a pluralidade e o outro são os valores éticos universais importantíssimos. A nossa cultura é extremamente plural. Há desde a cultura “gaúcha”, do homem do pampa, à cultura da imigração italiana, alemã, à cultura do índio, à cultura do negro, que é muito mais forte do que se pensa. Portanto, é uma cultura extremamente plural, extremamente rica, talvez como nenhuma outra cultura regional do Brasil. Mesmo com aqueles valores questionáveis, temos valores que são extremamente importantes nesse mundo de hoje, nesse mundo de individualismo. Um é o da hospitalidade. Todos nós, desde pequenos, aprendemos esse valor. Ele nos é ensinado na família, na escola. O gaúcho sempre é ensinado que, quando chega alguém em sua casa, tem que ser hospitaleiro, tem que hospedar. Outro valor é o da lealdade, que é importantíssimo, e o valor da liberdade. Talvez nenhuma cultura regional do nosso País tenha isso. Isso não é “patriotada”, é uma constatação. Corresponde a uma determinada situação histórica, pelas situações que tivemos de enfrentar para defender este país-continente que é o Brasil, o valor da liberdade, de que a Semana Farroupilha é muito repleta de situações, onde esse valor ético, universal esteve presente.

O resgate da nossa cultura não pode ser uma simples volta ao passado, um simples culto. Eu sempre prefiro falar que esse resgate é das nossas raízes culturais, dos nossos valores, um resgate que traga essa questão da pluralidade, o respeito à diferença, porque sem isso nós não construímos a democracia, que não é a uniformização de todo o mundo: é a convivência dos diferentes. Acho que a cultura gaúcha, pela sua pluralidade, tem isso muito forte. Esses valores éticos temos que resgatá-los, especialmente no mundo de hoje.

Visto dessa forma, acredito que a nossa cultura tem uma forte vocação para a resistência cultural nesses tempos de neoglobalização, onde temos um poderoso esquema de colonialismo cultural, nunca visto, que quer impor ao mundo inteiro a uniformização do gosto, dos padrões estéticos, de consumo, éticos; enfim, uma neoglobalização que quer transformar em escombros a diversidade cultural dos povos. A cultura gaúcha tem, exatamente por essa pluralidade, uma vocação muito forte para a questão da resistência cultural.

Com a permissão do Gaúcho da Fronteira, de quem também sou fã, eu também diria que nós temos coragem de dançar de bombacha no “Rock in Rio”. Isso é fundamental, quando nós temos essa massificação cultural tentando se impor e nos transformar a todos num pensamento único, que é uma coisa perigosíssima para a democracia. Nessa Semana Farroupilha, temos que resgatar essas coisas, e isso tem todo um conteúdo de atualidade e um instrumental que nós temos para fazer a necessária resistência cultural.

Quero parabenizar os nossos homenageados e, num certo sentido, agradecer pelo seu trabalho, porque nos trazem à tona essas coisas. De uma forma ou de outra nos trazem à tona esses valores. Desejamos que possam continuar por longos anos, muitos anos ainda, fazendo esse trabalho de resgate de nossas raízes culturais, a nossa identidade cultural nativista frente a essa avalanche do colonialismo cultural.

Quero a permissão de Barbosa Lessa - não tenho o mesmo talento - para ler, rapidamente, um poeminha, já que o Ver. Nedel falou “querência”, e essa é uma palavra muito forte. Fiz um poeminha bem curtinho, que se chama “Querência”:

“Querência/momento fugaz da nossa infância/que os caminhos do tempo/vão apartando na distância./Nós/andejos, teatinos a buscar futuros/numa frenética e ingênua insistência/na verdade buscamos tão somente/a resposta aos enigmas da existência/e encontrar a nós mesmos/a matear sentados à cancela/da Querência!”

Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Lauro Hagemann está com a palavra, Líder do PPS.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) A minha vertente partidária me impele a respeitar e a cultuar as tradições das várias regiões do mundo porque é nesse culto e nesse respeito que se constroem as nacionalidades. Essas pequenas diferenças regionais constituem o conjunto da sociedade humana. E nós, felizmente, aqui no Rio Grande, temos este componente.

Os oradores que me precederam já citaram o que significa a Semana Farroupilha, que nós estamos comemorando.

Porto Alegre, historicamente, está inserida nesta História Farroupilha de maneira até arrevesada para alguns. Mas nós somos parte desta História. E Porto Alegre tem essa tradição de cultuar a Semana Farroupilha. É o que nos estamos fazendo.

A minha vertente partidária respeita e cultua esse tradicionalismo pelas razões que já expendi. Muitas vezes, não queremos entender manifestações ostensivas de folclore, de tradição, de nativismo, porque temos a convicção de que essas coisas têm de ser tratadas com mais profundidade, com mais cientificismo, com menos aparências exteriores. E é isso que, às vezes, nos distingui no exame dessa questão.

Mas quero, rapidamente, sem prolongar mais essa Sessão, falar sobre os homenageados: o Vilmar Romera é um comunicador como eu, esparrama a tradição e o folclore através dos seus instrumentos de comunicação: rádio, televisão. O Renato Borghetti é um instrumentista, filho do Rodi e da Alda, meus velhos conhecidos; já se notabilizou pelo instrumento que abraçou e é um dos expoentes da nossa cultura. O Barbosa Lessa é meu velho conhecido e amigo, jornalista, publicitário, comunicador, literato, pesquisador, todas as coisas que se possa dizer de alguém que tem a cabeça do Barbosa Lessa ele faz. Eu não posso deixar de falar também nos patronos destes prêmios distribuídos hoje, principalmente de dois deles, que são os que vão ser homenageados.

O  povoeiro Lupicínio Rodrigues, que, embora produzindo música urbana, lá pelas tantas investiu numa música campeira - “A felicidade” -, mas foi um rápido lapso. O Lupicínio era um artista citadino e é uma das representações mais efetivas da memória gaúcha no cenário artístico-nacional. 

Muitos aqui conheceram Glaucus Saraiva, inclusive eu; apresentava-o na Rádio Novo Hamburgo uma noite por semana - isso há quase cinqüenta anos. Já lá vai um bocado de tempo! Depois nos encontramos aqui.

Barbosa e Glaucus são uma simbiose perfeita do que se pretendia com esse movimento tradicionalista: a pesquisa profunda das origens, não só das danças, dos cantos, da indumentária, mas principalmente do pensamento, do que inspirava essa cultura que nos é comum.

Então, a Câmara de Porto Alegre está tendo hoje a grata satisfação de homenagear, com o Prêmio Lupicínio Rodrigues, Renato Borghetti; com o Prêmio Glaucus Saraiva, Barbosa Lessa, e concedendo a cidadania ao Vilmar Romera, que engrandece a constelação dos cidadãos desta Cidade.

Nesta Semana Farroupilha, que se encerra domingo, é grato para a Câmara Municipal de Porto Alegre, que comemorou há pouco duzentos e vinte e cinco anos, proporcionar esta festa à Cidade.

Aos nossos homenageados: esta data tem um significado muito especial para todos nós, pois eles souberam engrandecer, sendo merecedores do recebimento deste galardão. Eu só tenho a felicitá-los e a dizer que Porto Alegre se sente inserida neste contesto mundial através dos seus tradicionalistas. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Convidamos o Ver. Gilberto Batista, proponente desta homenagem ao Vilmar Romeira, a quem caberá a distinção da entrega. Com a devida vênia de todos, solicito que compareça à Mesa para partilhar deste momento alguém que eu considero a outra metade do Vilmar Romeira, o seu mais leal companheiro, o Alencar Feijó. Sem ele esta homenagem não poderia realizar-se. (Palmas.) Peço aos dois que aguardem, porque vou seguir uma sugestão da nossa Relações Públicas, e nós vamos proceder à entrega das distinções conjuntamente.

Solicito, da mesma forma, para entregar o Prêmio Artístico Lupicínio Rodrigues ao instrumentista Renato Borghetti seus genitores e para que nos dêem esse privilégio de tê-los aqui conosco. (Palmas.)

Naturalmente, eu incluo entre nós, para complementar a entrega, o filho de quem designa a homenagem, o meu querido amigo Lupicínio Rodrigues Filho. (Palmas.)

E para entregar o Prêmio Glaucus Saraiva ao nosso querido Luiz Carlos Barbosa Lessa, penso que eu não poderia convidar pessoa mais qualificada e mais integrada ao espírito da nossa homenagem do que o Presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho Dirceu Brizola, para que seja o portador desta homenagem. (Palmas.)

Pela ordem, gostaria de solicitar ao representante do Sr. Prefeito Municipal que, conforme determina a Lei, se integre conosco nesta homenagem especial da entrega da distinção de Cidadão Honorário de Porto Alegre ao grande comunicador Vilmar Romeira.

 

(É feita a entrega do Diploma.)

 

Solicitamos ao casal Borghetti e ao amigo Lupicínio Rodrigues Filho que façam a entrega do Diploma do Prêmio Artístico Lupicínio Rodrigues a Renato Borghetti.

 

(É feita a entrega.) (Palmas.)

 

Solicito ao Sr. Dirceu Brizola que faça a entrega do Prêmio Glaucus Saraiva ao Sr. Barbosa Lessa.

 

(É feita a entrega.)  (Palmas.)

 

Retomando os trabalhos, devemos conceder a palavra aos três homenageados. Pela ordem, com a palavra este jovem instrumentista gaúcho Renato Borghetti, a quem o cerimonial da Casa pretendia vetar a entrega do prêmio no dia de hoje, porque ele não estava com a sua gaita-ponto.

 

O SR. RENATO BORGHETTI: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, eu não sei se é muito pertinente falar. Tocar é mais fácil. Eu só queria dizer que eu, como porto-alegrense, recebendo uma homenagem nesta Casa, que representa o povo porto-alegrense, e eu, como porto-alegrense, sinto-me muito honrado com o Prêmio Lupicínio Rodrigues, cujo proponente foi o meu amigo Reginaldo Pujol. Sinto-me mais honrado ainda estando acompanhado dessas figuras. Vilmar Romera, grandes cavalgadas que fizemos, grande amigo! Tio Lessa, não esqueço que, quando Secretário de Educação e Cultura, resolveu profissionalizar alguns artistas, tanto da área da música quanto da dança, e eu fui a uma ou duas reuniões. Quando foi na terceira reunião, eu disse: “não quero ser profissional nada, não gosto muito disso; prefiro ficar tocando no 35.” O Lessa lembra isso hoje, e estou muito contente em estar aqui hoje com o amigo e dizer que Porto Alegre e o Rio Grande do Sul vão ter sempre uma gaitinha-ponto à disposição para tocar para vocês. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com muita alegria, eu convido agora para ocupar a tribuna um expoente da cultura do Rio Grande, um dos seus mais marcantes intelectuais em todos os gêneros artísticos. Tem na literatura pontificado e se transformado em um verdadeiro arauto desse novo enfoque do tradicionalismo gaúcho a partir daquele movimento que gerou  o 35-CTG. Eu quero transferir a palavra ao nosso homenageado, a quem a Casa entregou o Prêmio Tradicionalista Glaucus Saraiva. Eu convido o escritor, o trovador, o intelectual, o patrão do CTG, o companheiro de lutas tradicionalistas, para que nos brinde com um pronunciamento da tribuna.

Com a palavra, o nosso grande intelectual dos pampas, Luiz Carlos Barbosa Lessa. (Palmas.)

 

O SR. LUIZ CARLOS BARBOSA LESSA: Sr. Presidente, a quem dedico, inclusive espiritualmente, pelas Furnas do Jarau, onde lá está a Teiniaguá me tentando há tantos anos, eu tentando abraçá-la, ela fugindo, mas fugindo de maneira a que eu continue perseguindo, com amor, com devoção. Minha homenagem àquela partezinha lá do Sul do nosso Estado. Também gostaria de abraçar o Nedel, já que temos como ponto de ligação aquela admirável e incrivelmente desconhecida imagem da Igreja Matriz de São Luiz Gonzaga, que é a Nossa Senhora do Chimarrão. E, se eu fosse citando todos aqueles velhos amigos que aqui eu revejo, só na citação desses nomes teríamos despendido um tempo além do razoável. Mas eu sou forçado a dizer alguma coisa rapidamente sobre o que representa este prêmio, este diploma para mim.

Eu perigo cair em dois extremos: um, é que, cedendo a minha emoção, a minha sensibilidade, eu caia no pieguismo, na repetição de certas palavras muito doces, mas ingênuas, talvez, e nós não estamos em época para ingenuidades. Outra é também, traduzindo uma parte do meu sentimento, eu entrar numa vereda de grande eloqüência e esporrar, aqui, foguetes verbais como se fosse um novo Silveira Martins, e não será esse o objetivo. Então, eu prefiro, evitando tanto a pieguice, tanto quanto possível, e a grande eloqüência, dizer algum fato que valha pela sinceridade da evocação. Então, eu recordo quando eu cheguei, aos quinze anos de idade, a Porto Alegre, trazendo, no modo de andar, no modo de conversar, principalmente no meu modo de sentir, aquele brasão inconfundível daquele indiozito do interior de Piratini, caindo nesta Cidade onde o destino me chamava. Porto Alegre me recebeu bastante mal. Porto Alegre me assustou. Seriam inúmeros os episódios daquela fase. Na primeira semana de aula no Julinho, tivemos aulas de educação física e fomos fazer a aula no Parque Farroupilha, então Parque da Redenção, pois estava em tratativas um local definitivo para nossas aulas de educação física. No final dessa primeira aula, o professor reuniu toda a turma e disse que, a partir da próxima semana, teríamos aula no Estádio dos Eucaliptos, e aquele guri de Piratini caiu na asneira de perguntar para o professor onde ficava o Estádio. Vi aquela multiplicada presença de olhos apalermados diante de um colega que não conhecia um dos pontos mais importantes da Cidade de Porto Alegre. Perguntei também ao professor como se chegava ao Estádio. O professor, que estava irritado com a minha ignorância de troglodita, me disse que, perguntando, eu chegaria lá. Esse foi um dos episódios iniciais do meu contato com a nova escola, com os novos colegas e com os “magister” que iria encontrar.

Iria longe na evocação daquela primeira reação perante um grossito que chegava para tentar se civilizar. Não era só eu que me sentia alijado por Porto Alegre. Amigos meus também vindos do Interior - o Aurélio, o Ariosto, o Krieger... Nos encastelávamos apoiando um ao outro, tomando chimarrão na pensão onde morava o Aurélio, na Marechal Floriano. Então, nos encontrávamos com aquela marca de interioranos, e fomos agüentando as pontas. Percebo que havia alguma razão para que os meus colegas ficassem “trocando orelha” perante aquele guri que havia chegado do Interior. O mesmo cara que não sabia onde ficava o Estádio dos Eucaliptos perguntava para um e outro, com entusiasmo, com curiosidade, onde ficava - algo que o guri conhecia só por fotografia por ter sido inaugurado em 1935 - o Monumento a Bento Gonçalves. “Que Bento?” - perguntavam. “Bento Gonçalves, General Farroupilha” - ele respondia. “Não sabemos quem é Bento, muito menos onde ele está” - respondiam. Era uma série de contradições.

Fui percebendo com o tempo e, passados muitos anos, me dei conta de que isso deve ter sido uma malandragem, não só comigo, mas uma malandragem de Porto Alegre, como uma comunidade autêntica, “botando na prensa” quem chegava aqui para coabitar esta bela região junto ao Guaíba e com gente tão boa. Eles pensavam: “vamos ver se esse cara tem condições de se assentar aqui; do contrário, que se mande. Que ele prove que tem condições.” Fui reagindo até encontrar os companheiros do Departamento de Tradições do Júlio de Castilhos, até ajudar a fundar o CTG-35 e dar andamento ao culto às tradições gaúchas. Entendo hoje como uma propositada malandragem da Cidade de Porto Alegre para que provássemos que estávamos em condições de viver aqui dignamente.

Tive a satisfação de morar em dois períodos aqui, em Porto Alegre: um de 1945 a 1954, quando tive a satisfação de aqui chegar e, ao sair, ter deixado, graças a companheiros que me estimularam, algo que não existia antes da minha vinda, que era o CTG-35, que até hoje está lá. No início, não tinha nem sede, mas está lá, abrigando rio-grandenses e brasileiros com a sua pira, que não é só da Semana Farroupilha, mas é o fogo campeiro que há de janeiro até dezembro.

Na segunda vez em que aqui estive, eu percebi que Porto Alegre ainda estava me atossicando para eu demonstrar se eu podia fazer mais alguma coisa, tal como aconteceu na minha primeira vinda, de que resultou na participação de outros, na fundação do CTG-35. Da segunda vez, quando daqui me despedi, deixei algo que não havia antes e que resultou do amor a esta terra, que é a Casa de Cultura Mário Quintana. Então, com o 35 e com a Casa de Cultura Mário Quintana, eu acho que eu já teria dado a minha contribuição, a minha devoção a esta terra; mas, ainda assim, eu fico devendo muita coisa. Devendo, por exemplo, à Nossa Senhora Mãe de Deus, integrante da Sagrada Família, a felicidade de aqui ter encontrado e, sob as bênçãos da Sagrada Família, na Rua José do Patrocínio, ter casado com aquela autêntica prenda que há 36 anos me acompanha com o espírito de companheirismo, só encontrado, por exemplo, nos Borghetti e em alguns outros.

Com tantas cidades que existem no mundo, aqui eu tive a graça de ver nascer a minha filha Valéria, que mais tarde seria também uma prenda do 35, lá dançando e cultuando as nossas tradições. E mais: um filho, o Guilherme, ambos nascidos aqui. O Guilherme, ainda hoje, peleando como um cidadão digno, do maior respeito, porque é incansável na seriedade com que contribui para o engrandecimento desta comunidade, principalmente no atendimento na área do SESC. É um belo cidadão integrando uma notável e respeitável entidade.

Sou grato a Porto Alegre por ter me dado essa felicidade, mas estávamos empatados até o dia de hoje. Houve uma quebra dessa igualdade com o ato tão notável da Câmara Municipal de me convocar para receber um abraço representado nesse diploma de reconhecimento e de incentivo. Passei a ser devedor, com muita alegria, por essa admirável prova de amizade da Câmara. Sinto-me bem sendo devedor. Agora, me sentirei mais leve se daqui sair em igualdade de condições, nem devendo mais a Porto Alegre, nem Porto Alegre me devendo. Estaremos quites, iguais.

Então, dentre tantas pessoas que aqui eu reencontrei - iria longe se evocasse cada uma delas -, conheci hoje uma pessoa que tinha muita vontade de conhecer – conhecia-o apenas de nome -, que é o Padre Mário Escopel, cavaleiro da fé, cavaleiro da paz. Eu pediria, sem pieguice nem grande eloqüência, mas com toda a sinceridade, que o Padre Mário Escopel, ainda que em silêncio, numa postura leve, seja transmissor à Nossa Senhora, Madre de Deus, pela bênção que me proporcionou ao longo de todas essas etapas que vivi em Porto Alegre. Vibrei com Porto Alegre e hoje me reencontro com Porto Alegre, representada por gente tão querida. Muito obrigado, Padre Mário Escopel. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Sr. Vilmar Romera está com a palavra.

 

O SR. VILMAR RIBEIRO ROMERA: (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Eu quero dizer que o Ver. Gilberto falou em São Jerônimo e que nós somos cobrados por muitas pessoas porque somos filhos de Arroio dos Ratos. Quando nós éramos piás, Arroio dos Ratos fazia parte do Município de São Jerônimo. Por isso consta na nossa identidade a naturalidade de São Jerônimo, mas somos, com muito orgulho, carvoeiros, filhos de Arroio dos Ratos.

Eu quero dizer aos senhores que sou um homem feliz por ter amigos. O Ver. Gilberto Batista foi modesto demais quando disse que eu havia lhe dado um emprego e ele foi entregar santinho. Os senhores não sabem. Ele praticamente pagou para mim para fazer, ao meu lado, uma campanha quando eu e o Nico inventamos de ser candidatos a Deputado Federal na Constituinte. Levamos uma saraivada maravilhosa e estamos tranqüilos por isso.

O Ver. Reginaldo Pujol usou a expressão “meu irmão”. Eu a uso muito carinhosamente com os meus amigos. Portanto, eu digo: meus irmãos! Companheiros, aqui eu vejo o pessoal da Keko e da Cabral, meus amigos. Secretário de Turismo de Tramandaí; colegas do BANRISUL; Conselheiros do CTG-35; velhos amigos; Benfatto, atual Patrão do CTG-35;  Brizola, que também conduz a nossa entidade maior, o nosso MTG. Vejo, aqui, artistas que me dão muito orgulho. Muito, Pimentel, Paulinho Pires, meu irmão, meu amigo; Gaúcho da Fronteira; Edson Otto; meus amigos Cavaleiros da Quinta, que nesta semana estiveram comigo levando o barco Seival até Tramandaí; meus irmãos Cavaleiros da Paz;  irmão Omair, que vem com o Félix e o Padre Mário; Dr. Moraes; a figura do São Borja; do Dida, dos Cavaleiros da Paz; Dr. Régis Bruck, Cavaleiro da Paz; Borghettão; o alemão e o Elton. Será que eu mereço? Não vou ser modesto. Eu acho que mereço. Não é debalde que praticamente trinta pessoas têm um nome a escolher e escolhem por unanimidade esse nome. Eu acho que mereço.

Vim de família pobre, orgulho-me disso e quero aqui pedir, com muito carinho, que, assim como o Borghetti teve a alegria de receber o título das mãos de seu pai e de sua mãe, eu também gostaria de recebê-lo das mãos de minha mãe, Dona Paulina, oitenta e cinco anos de idade. Esta, sim, é que vai levar essa medalha.

Pergunto eu: vale a pena ter amigos? Vale. Vale a pena se passar por um momento deste? Vale. Porque o Borghettinho, que vejo aqui, é um piá que foi criado dentro do 35. O Lessa fez o Borghettinho, que se criou no meio, e eu vivi o meio do 35. Eu fui de tudo no 35, inclusive o famoso carregador de tábuas, quando de dois em dois anos nos mudávamos. Os nossos feriados, sábados e domingos passávamos carregando tábua. Até que um dia a figura de Glaucus Saraiva, que trabalhava no Governo Triches,  deu-nos a alegria de dizer: “na  Av. Ipiranga, vocês vão parar.” E paramos.

Orgulho-me de dizer que o Borghettinho, com os meus filhos que estão ali, o Ricardo e o Júnior, fizeram parte da Invernada Mirim e Juvenil do 35. O Borghettinho, com todo aquele tamanho, porque já nasceu grande, sapateava, e eu era um dos poucos caras que tinha a felicidade de fazer o Borghettinho falar. Então, para declamar, o Borghettão me chamava: “Romera, pede para o Renato.” Eu chamava ele para um canto. Lá vinha ele. E eu lhe perguntava: “o que é rapaz?” Ele respondia: “eu vou dizer ‘Bochincho’.” Isto era a única coisa que ele dizia; isso quando ele falava, porque hoje ele fala.

No 35 eu vivi minha vida. Por que de bota e bombacha? Eu estou aqui, porque eu devo, sinceramente, noventa por cento da minha vida ao meio tradicionalista em que vivo, porque ali eu me encontrei, ali eu criei a minha família, e meus filhos foram criados no meio, e hoje, com rádio e televisão, eu me comunico, porque eu tive, dentro do 35, uma escola, que é o meu CTG, é um pedaço da minha vida.  Amo o 35, vou morrer amando o 35. Basta dizer que fui patrão quatro anos. Quando saí, fui convidado por mil entidades, mas eu sou fiel ao 35. O 35 é um pedaço da minha vida.  E, quando sou homenageado aqui, o 35 também é homenageado, porque eu faço parte do nosso 35.

Quero dizer que as coisas boas acontecem para a gente, e eu sou um homem feliz. Sou um homem de família pobre. Lembrava-me, quando estava ali sentado, que fui empregado do Hotel Paz, na Av. Borges de Medeiros, e, como não tinha uma roupa melhor - naquele tempo não existia ainda o brim coringa -, minha mãe fazia eu usar bombachas, e eu, de chinelo e bombachas, ia buscar verdura no Mercado Público, com um balaião, grudado num bonde que ia até lá na ponta do Mercado e sendo gozado por um monte de gente. Eu agüentava no osso do peito. Usar bombachas? Há quarenta anos atrás? Aqui, no Centro de Porto Alegre, carregando verduras? Era uma loucura, mas não tinha outra coisa para colocar, e colocava aquelas bombachas.

Tive a infelicidade de ser assaltado em Porto Alegre. Eu era entregador de roupas da Lavanderia Coelho, que ficava na Rua Jerônimo Coelho, e um dia fui entregar um cabide de roupas na Rua Riachuelo e o cara me chamou num canto da rua e eu fui assaltado. Levou com ele o cabide e a roupa. Fui descontado do meu salário. Naquela época, gurizão com doze, treze anos, fui assaltado. Isso me marcou. E tive a alegria de entrar para a Rádio com treze anos e meio de idade, quando arrumei um emprego na Rádio Itaí, de “office-boy”, limpando auditório. Na época, eu varria o auditório, cobrava ingresso para entrada no auditório e era operador da Rádio. Com quatorze anos e meio tive a felicidade de fazer, naquela época, jovem ainda, um guri, a primeira novela - “O Preço da Felicidade” -, junto com Sandra Lee e Rubens Alcântara. Com dezessete anos de idade fui considerado o mais jovem locutor da madrugada no Rio Grande do Sul, na Galeria do Rosário, 21º andar, na Rádio Princesa. Coisa boa!

Tenho a alegria de dizer para o meu neto e para a minha neta que hoje eu sou Cidadão de Porto Alegre, que um Gilberto Batista, de um futuro político invejável, pelas suas maneiras, entendeu de botar o meu nome no círculo, que Reginaldo Pujol inventou de avalizar. Vou contar para eles que esta medalha - vou tirar uma foto com a Dona Paulina e dizer que também é dela - foi ganha com um certo sacrifício de amor a este pago, a esta terra.

Realmente, a melhor coisa que o homem faz é ter amigos. Quem não tem amigos não adianta ter dinheiro no bolso, dizer que é dono do mundo, se não tiver um amigo ao lado. Quem não tiver amigos não adianta ter fortuna.

Agradeço a esta Casa. Vou levar dentro do meu coração este carinho. Tenho aqui ao meu lado alguém que é também responsável por este momento, que é o Luizinho Dexheimer, meu amigo e meu irmão. E o Alencar, que é metade mais um pouco, que me deu, largou no meu bolso uma mensagem: “Deus é amor”. Vou levar para o meu carro. Quem estiver agarrado a isto pode ter certeza de que realmente Deus é amor. E está muito bem situado.

Volto a repetir que amizade não se compra, se conquista. As injustiças: sempre há alguém que as repara, que é o Deus maior. Viver a vida é a melhor coisa do mundo. Muito obrigado a vocês, do fundo do coração. Como é bom ser gaúcho!

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Encaminhamo-nos para o término da Sessão Solene que marcou, de forma muito positiva, os festejos da Semana Farroupilha no Legislativo da Cidade.

Antes de concluir, preciso, mais uma vez: agradecer a presença entre nós do ilustre Promotor de Justiça do Estado, Dr. Altamiro Francisco Roque, integrante da Mesa Diretora dos trabalhos, representando a Procuradoria-Geral da Justiça; agradecer ao Presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho, a quem se destina grande parte destas homenagens, porque sem esse Movimento certamente esta Casa não estaria reunida no dia de hoje para cultuar a tradição do Rio Grande - então, nele simbolizamos grande parte desta homenagem; agradecer aos demais integrantes da Mesa. Em nome da Casa, agradeço a presença de quantos nos deram o prestígio de estarem conosco neste dia em que se consolida, no Legislativo de Porto Alegre, essa tradição de manter, de forma objetiva, a chama acesa do Rio Grande do Sul nesta data alusiva aos feitos de 35.  Evidentemente que, ao lado das pessoas já nominadas, eu teria que voltar a me referir ao Chico Menna, nosso patrono do CTG Maurício Sirotsky Sobrinho, aos Cavaleiros da Paz, que sempre estiveram conosco integrados - inclusive seu líder maior, Antônio Fagundes, esteve conosco na abertura dos trabalhos -, aos dirigentes do GTS, como Moraes, aos artistas que aqui compareceram. Enfim, a todos. E eu me sinto extremamente gratificado. Eu sou feliz como homem público. Estou feliz como gaúcho, estou feliz como integrante da sociedade porto-alegrense, porque vejo que o esforço de homens como Luiz Carlos Barbosa Lessa, Antônio Augusto, os pioneiros do 35 estão frutificando. De forma muito categórica, a nossa TV Bandeirantes, que está registrando esse acontecimento e que é a imagem viva do Rio Grande, poderá testemunhar para o futuro o que foi, o que é esta Sessão Solene que hoje se realizou.

Ao Cidadão de Porto Alegre Vilmar Romera, ao Luiz Carlos Barbosa, a quem tive a honraria e privilégio de propor a distinção do Prêmio Glaucus Saraiva - que, como alguém disse aqui, se não me engano o Lauro, é uma simbiose perfeita, é o ajustamento entre a criatura e o criador, eis que todos nós nos acostumamos, ainda meninos, a ver esta luta vanguardeira pela tradição gaúcha que o Glaucus Saraiva e o Luiz Carlos Barbosa Lessa iniciaram em momentos inspirados -, por fim, ao jovem talentoso instrumentista do Rio Grande, aquele que nos resgatou por inteiro, aquele que levou a gaita-ponto a universalizar-se pela excelência das melodias que ele instrumentaliza, ao Borghettinho, autor da nossa vingança que redimiu a música do Rio Grande, até ontem símbolo da graçura e hoje símbolo de bom gosto e atestado de uma cultura musical, aos três, e a todos vocês, muito obrigado.

Eu sou feliz em conduzir esta reunião. Eu sonhei, um dia, que nós poderíamos aqui, em Porto Alegre, afirmar a nossa condição de gaúchos conscientes e responsáveis, e este dia eu vivi junto com vocês.

Agora, para concluir, vamos ouvir, em pé, o Hino Rio-Grandense.

 

(É executado o Hino do Rio-Grandense.)

 

Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão Solene.

 

(Encerra-se a Sessão às 21h44min.)

 

* * * * *